Também já fizeste uma incursão na literatura de golfe, escreveste a Bíblia do Golfe, da editora Prime Books, que, depois das “Bíblias” do Sporting, do Benfica e do FC Porto, quis começar precisamente pelo golfe uma sequência dedicada a outras modalidades. Como foi para ti teres feito esta obra?
Foi interessante. Um modo de retribuir à modalidade um pouco do tanto que ela me tem dado. E também uma boa maneira de criar um espaço de distanciamento entre a primeira e a segunda versões do meu livro anterior, “Os Sítios Sem Resposta”. Foi nesse intervalo que o escrevi.
A “Bíblia do Golfe tem um sub-título: “O melhor jogo do mundo”. O golfe é mesmo o melhor jogo do mundo?
O melhor e o pior. O mais difícil e filosófico, mas também um sacaninha ingrato que não nos perdoa o mínimo deslize. Neste jogo, o excesso de desejo é a morte do artista. E eu sou um apaixonado...
Como e quando é que nasceste para o golfe?
No final de 2006, creio. Tive aulas com o professor Domingos Moita. Fiz-me sócio do CG dos Jornalistas e depois, em simultâneo, do CG Aroeira e do CG Ilha Terceira. Tenho muitas saudades da Aroeira e dos meus amigos da Aroeira. Foi a primeira coisa de que tive saudades ao instalar-me na ilha.
É verdade que chegaste a single figure de handicap em apenas 12 meses?
Não sei se foi em 12 meses, mas penso que foi em menos de 24. Na altura, jogava quatro vezes por semana. Mas é um tipo de evolução que vem depressa e vai depressa também.
Não me esqueço de uma crónica tua em que falavas da primeira volta que fizeste abaixo das 80…
Sempre fui um bocado gabarolas. Mas, sobretudo, quis registar a preclaridade de um momento assim. Nos últimos três anos, se joguei cinco vezes abaixo das 80, foi muito.
Sendo escritor e cronista, manténs a tua ligação ao jornalismo através do golfe, no jornal “O Jogo”. Mas és também um pensador do golfe e, assim sendo, pergunto: tens alguma ideia feita sobre o motivo por que Portugal não ultrapassa os 13 mil, 14 mil ou 15 mil jogadores federados? A República Checa é mais recente no golfe e já vai quase nos 60 mil…
Portugal vive há 40 anos numa espécie de PREC permanente. O jogo não é barato, claro. Mas o pior é o anátema social. Só joga golfe – pensa-se – quem quer ascender socialmente. E, em muitos casos, isso é de facto verdade. Há toda uma grossíssima faixa da população à qual o jogo mete nojo. Assim não se cresce. É preciso tornar este jogo mais sexy. É precisa comunicação a sério.
Ricardo Melo Gouveia será a estrela por que o golfe português tão ansiosamente aguarda?
Estou convencido de que pode sê-lo. Esta regularidade deixa-me siderado. É qualquer coisa de fenomenal. No European Tour, em 2016, far-se-á o diagnóstico diferencial.
O que se passa com Pedro Figueiredo e Ricardo Santos?
O Ricardo passa por um mau momento por que todos os jogadores passam, mas de que ninguém em Portugal alguma vez saiu. É esse o seu desafio: fazer o que nunca ninguém fez, que é voltar lá acima. Mas ele já está habituado a fixar novas referências e acredito que recuperará. É o meu herói número 1. O Pedro talvez esteja a lidar com as expectativas que havia à sua volta, ou mesmo dentro de si próprio. Faz-me lembrar, à escala, o Patrick Cantlay, que hoje é uma sombra do Jordan Spieth. Mas hoje é hoje, não para sempre. Se o Cantlay ressurgirá, não sei. O Pedro, estou convicto de que se afirmará.
Tiger Woods vai voltar a vencer um major?
Agora já acho que não. E olha que tentei continuar a acreditar até ao fim. Creio que o momento de deixar de acreditar chegou. Mas continua a ser o melhor que alguma vez pisou o verde.
Não resisto a perguntar, para finalizar: quais são os teus escritores de eleição, portugueses e estrangeiros?
É muito difícil dizê-lo. Mas talvez os que mais me influenciaram tenham sido o Eça, o Saramago e o João de Melo, entre os portugueses; mais o García-Márquez, o David Lodge e o Jonathan Franzen, entre os estrangeiros. Se conseguires identificar aqui um padrão, óptimo. Mas isto é só do ponto de vista do fôlego narrativo. Em termos de recursos estilísticos, imagética, visão do mundo e tudo o mais que enforma um escritor, eu podia dar-te mais uns 50 nomes e continuava a pecar por defeito. Desde Homero que tudo me influencia, mesmo que por interposto autor. Todos somos influenciados por todos, mesmo nos casos em que não os lemos ou conhecemos.
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