Joel Neto: o último livro e o golfe
Escritor e golfista açoriano diz que romance “Arquipélago” foi a grande “empresa” da sua vida
Joel Neto foi jornalista de quase todos os principais jornais portugueses, onde trabalhou como redactor, editor, chefe de redacção e grande repórter. Hoje é colunista dos jornais Diário de Notícias e O Jogo, em cujos diferentes cadernos assina várias colunas diárias e semanais, dedicadas ao quotidiano, à cultura e ao futebol. Regressou às ilhas dos Açores em 2012, onde nascera e crescera, em busca do ideal da vida no campo, e é de lá que continua a escrever diariamente; a sua coluna diária “A Vida no Campo” (Diário de Notícias) tem obtido amplo louvor crítico, tanto da parte dos leitores, como da parte de jornalistas da imprensa, da rádio e da televisão. Autor de livros de diferentes géneros, inclusive vários volumes de crónicas, Joel Neto assumiu-se como escritor profissional precisamente em 2012, após aquele que considerou o último livro da sua adolescência criativa: Os Sítios Sem Resposta; Arquipélago é o primeiro resultado dessa investida profissional. O romance é o primeiro (e mais importante) de uma série de quatro livros em diferentes géneros que tem programados para um espaço de dois anos, e que inclui um volume de relatos, um folhetim e uma grande reportagem. Mas Joel Neto é também um ilustre golfista e jornalista especializado na modalidade, o que justificava plenamente esta entrevista.
GOLFTATTOO – A primeira edição de “Arquipélago” esgotou em armazém em apenas dez dias. Surpreendido? Como vês a boa recepção por parte do público?
JOEL NETO – Tínhamos expectativas muito altas, eu, a minha editora e a minha agência. Mas o arranque suplantou-as totalmente. A mudança é mesmo essa: a receptividade por parte do público. Sempre tive boas críticas e suficientes atenções mediáticas. Desta vez, os leitores aderiram. Chega a ser comovente. Aqui há dias, o Nuno Camarneiro falava-me de uma teoria da física quântica segundo a qual, se atirarmos vezes suficientes uma bola de borracha contra uma parede de betão, há uma vez que a bola fura a parede. Sinto-me a viver essa vez.
Marcador (edição e divulgação), Booktailors (agenciamento), editores, revisores, consultores técnicos e científicos... Houve aqui realmente um trabalho de equipa para o sucesso inicial de “Arquipélago”?
E não te esqueças dos “beta readers”, os leitores prévios (chamemos-lhe assim). Sim, houve. A meu pedido e de acordo com o modelo anglófono, em particular o norte-americano. Arrisco-me até a dizer que, se a literatura tem futuro como indústria, é por aqui. O melhor é apressarmo-nos, porque começa a haver demasiada coisa travestida de literatura e disponível para ocupar o espaço que ela já teve enquanto indústria. E, embora não posso ocupar o espaço que ela mantém como expressão artística, pode seguramente destruí-lo.
O livro foi apresentado oficialmente na FNAC do Chiado a 28 de Maio, estamos no dia 7 de Junho e dizes-me que a tua agenda tem sido dura, que estás como que a jogar à batalha naval. Têm sido muitas as solicitações? Conta-nos como tem sido a tua última semana e meia em Lisboa?
Têm sido muitas as solicitações, felizmente: para eventos, para entrevistas, para almoços de celebração. Além disso, tento dar atenção a cada leitor que me contacte: na Feira do livro, pela Internet, na rua, até ao telefone. Como prometi em casa que a seguir íamos uma semana de férias, ainda tive de acumular todo o trabalho dos jornais. Foi duro, mas é um dilema dos bons. Oxalá tivesse duas semanas assim por ano, ao mesmo tempo de exaustão e realização.
Os lançamentos do livro nos Açores são só a 26 de Junho, em Angra do Heroísmo, e a 2 de Julho, em Ponta Delgada. Porquê este hiato?
Em Angra, gosto de fazer sempre os meus lançamentos nas Sanjoaninas, pelo que só podia ser nessa altura. Por outro lado, gosto sempre de ir primeiro à minha cidade e só depois a São Miguel.
No lançamento do livro na FNAC Chiado, com Alice Vieira à sua esquerda / © D.R.
Que influência é que a feitura deste livro teve no teu regresso, há três anos, à ilha Terceira, onde resides desde então? Tinhas o livro já na cabeça e sabias que só o poderias construir lá? Finda a obra, não ponderas voltar à Lisboa?
Sim. Todos os livros são diferentes consoante o lugar (e a idade, e o estado de espírito) em que são escritos. Mas este, em particular, exigia que eu recuperasse memórias que só aquela geografia podia trazer-me de volta. Penso voltar a Lisboa, mas não ainda. Fomos por quatro ou cinco anos e, se calhar, acabaremos por ficar seis ou sete. Sentimo-nos a viver uma fase de grande criatividade, eu e a minha mulher.
Como foi conciliar a escrita de “Arquipélago” com os teus afazeres profissionais, nomeadamente as crónicas que escreves diariamente para “O Jogo” e o “Diário de Notícias”, e que, exigem, por si só, concentração e pensamento? Quais foram as tuas rotinas na construção de “Arquipélago”?
Foi a empresa da minha vida: a tarefa mais difícil que alguma vez desempenhei. Em particular no último ano, em que trabalhei seis dias por semana, das oito da manhã às onze da noite. Dedicava as manhãs ao livro (8h-15h) e as tardes aos jornais (15h-23h). É algo que não posso voltar a fazer, porque o meu corpo não aguentará.
Num campo tão natural e paradisíaco como o do Clube de Golfe da Ilha Terceira, o golfe representava para ti um escape da escrita e do trabalho?
Muito pouco. Joguei umas 30 vezes nestes três anos. No último ano, umas cinco. Já não acerto na bola. Mas, agora, quero recuperar o swing.
Pediste-me que a data para esta entrevista não ultrapassasse domingo, porque a partir de hoje, segunda-feira, entras de férias com a tua mulher, Catarina. É o descanso do “guerreiro”? Onde e como vão ser os teus próximos dias?
Vou estar em Praga durante uma semana. Parece pouco, mas para nós, que somos freelancers e nunca temos férias, é bastante. Planeio dormir, ler, comer e beber. Espero passar os sete dias num permanente estado de razoável embriaguez.

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