O destino inevitável de Bruma
Concretizar a promessa de fenómeno é o seu destino inevitável. Bruma assenta nas armas desequilibradoras de talento natural, instinto felino, articulação motora perfeita, velocidade com e sem bola, agilidade, intuição e argumentos sublimes na relação com o golo, gigantesco arsenal travado por debilidades gritantes no jogo combinado, mais visíveis nos lances de progressão participada. É capaz de resolver as situações mais delicadas recorrendo a soluções inimagináveis; concebe milagres que nos fazem acreditar no futebol como expressão de arte e é um génio indiscutível, daqueles que reconhecemos centésimos de segundo depois da tentação de o recriminarmos por ser egoísta e gritarmos a plenos pulmões a sentença tantas vezes equivocada: "Passa a bola!"
Bruma é peça solta nos mecanismos instituídos na equipa, o que não é forçosamente uma crítica – sendo jovem, prevalece a esperança de adquirir as competências em falta. Nos três jogos efetuados (e no primeiro foi apenas suplente utilizado), sugeriu estarmos perante uma estrela mundial. Os argumentos técnicos e físicos estão lá todos, um pouco desorganizados, é verdade, mas suficientes para interferirem na resolução de um jogo. O grande palco assistiu a nova etapa na construção de um craque e Bruma deu outro passo para concluir o complexo puzzle à volta de futebolistas com o seu perfil individualista e extravagante: que resolve todos os problemas por habilidade e não por entendimento global do jogo; finta as armadilhas e cria o assombro pela eficácia das soluções deslumbrantes e não pela visão global de, chamando os outros, ultrapassarem os obstáculos e saírem dos apertos sempre em conjunto.
Igor Tudor, o croata que o orientou no Galatasaray, não teve medo das palavras quando confrontado a emitir opinião: "Todos ouvem o que temos para dizer menos um. (…) Vi muita coisa na carreira mas nunca alguém comportar-se como Bruma." O que o antigo jogador da Juventus (1998-2007) pretendeu transmitir é simples: existe desfasamento profundo entre o potencial infinito do jogador e a sua expressão tantas vezes desorientada, tema sobre o qual César Luis Menotti já refletiu há muitos anos. No final do século passado, o mestre argentino estabeleceu diferenças entre dois tipos de futebolistas: os génios, que não sabem jogar futebol, e os outros que, assentes em soluções individuais menos ricas, entendem o jogo como um todo, baseado numa longa cadeia de movimentos e acontecimentos previsíveis, cuja gestão pode e deve ser feita por antecipação.
O velho campeão do Mundo em 1978 levava a ideia à provocação pura e simples. Para chocar mas, também, para tornar mais clara a opinião, dava como exemplo Ronaldo Fenómeno: "Pode ser eficaz nas ações mas não faz a mínima ideia do que é jogar futebol." Pelo contrário, ignorando as leis do mercado, afirmava que Makélélé, esse sim, conhecia as chaves do jogo como desporto coletivo, logo dominava toda a sua essência.
Bruma não precisa de ser líder e maestro como Bruno Fernandes, por exemplo, tal como Cristiano, Nani e Quaresma triunfaram sem dominarem a arte de comandar orquestras que caracterizava Rui Costa e Deco e orienta o estilo de Adrien e Pizzi. Mas tem de perceber, e isso ditará o seu futuro, que não pode ser um solista indiferente à estrutura coletiva; um magistral executante descontextualizado de organização e disciplina; um delicioso criador de peças clássicas em equipas regidas por outros estilos de música. Mesmo sendo decisivo. Pelo que acaba de fazer no Europeu de sub-21, só precisa de pequenos ajustes para dar o passo em frente, o principal dos quais seguir a orientação dos treinadores. Se conseguir despertar todos os sentidos e aceitar que é ainda um projeto por concluir, não tarda o Leipzig será curto para o fora de série em que pode transformar-se.
Nani motivado é grande notícia
Nani entrou para o lugar de CR7 e a substituição ajudou a mostrar um jogador diferente. Nunca lhe faltou compromisso, responsabilidade e talento por Portugal mas o tempo encarregou-se de mostrar um jogador menos apto a lutar contra a adversidade. Com os neozelandeses revelou motivação em alta, com a ansiedade de cumprir o desejo do filho – um golo. Para tê-lo no máximo, todas as razões são bem-vindas.
O miúdo que há no veterano Pepe
Pepe é, a larga distância, o melhor central português, o mais influente e, por isso, o mais valioso. Aos 34 anos, só um craque abandona o Real Madrid e logo lhe surgem colossos europeus interessados nos seus serviços. Com a Nova Zelândia, num lance inofensivo, a meio-campo, teve entrada inexplicável sobre um adversário, viu cartão amarelo e está fora da meia-final. Parecia um miúdo inconsciente.

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