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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sábado, 2 de março de 2019

Do jornalista Rui Almeida


“FAROL DE NEVOEIRO” – 3 março

Dar (outro) mundo à “Marca Açores”

Desafios e oportunidades muito além dos circuitos habituais

Todos os anos, o SISAB (Salão Internacional do Setor Alimentar e Bebidas) origina uma de duas “peregrinações obrigatórias” de agentes açorianos da economia, do turismo e da comunicação social a Lisboa. Às instalações da FIL, no Parque das Nações, chegam esperanças, projetos, ideias, e lá se tentam criar pontes, estimular negócios, encontrar alternativas. No SISAB (e na Bolsa de Turismo de Lisboa) fica congregada boa parte da imagem da região no exterior, da sua capacidade de desbravar caminhos e de articular sinergias.

Importa, a montante de todo o processo, perceber o que efetivamente se deseja com a divulgação e amplificação do conceito que define, em termos externos, a economia do arquipélago, os seus produtos e a qualidade da sua oferta: a “Marca Açores”, excelente ideia conceptual, conseguindo, numa expressão e num logótipo, abranger uma ampla paleta de recursos de elevada qualidade produzidos a meio do Atlântico, e juntar uma aura de magia que apenas as paisagens e as gentes açorianas podem associar ao conceito, projeta, através da Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores (SDEA), uma estratégia de aproximação  a mercados bem definidos: o mercado regional, é certo, mas sobretudo o “mercado interno” (a colocação dos produtos certificados no continente português), o “mercado europeu” (com um olhar especial para países recetores e consumidores de “excelência”, como a Alemanha, a Inglaterra, a França ou a Espanha), e o mercado da América do Norte, balizado sempre pela “saudade” de uma diáspora de segunda e terceira gerações ativa e com poder de compra, mas ao qual ainda falta “dar o salto” para uma maior abrangência geográfica e social, libertando-se desse anátema para conseguir distribuir, com alguma eficácia e profundidade, produtos açorianos qualificados nas sociedades de consumo estado-unidense e canadiana.

Poucas ou nenhumas são as referências e preferências de expansão a outros mercados, potencialmente com capacidade para absorver a oferta açoriana de produtos “gourmet”, por exemplo. Por outro lado, importa perceber as dinâmicas de produção, a abertura dos empresários a novas “aventuras” por tecidos económicos desconhecidos ou inexplorados, e a possibilidade efetiva de criação de relações económicas estáveis e duradoiras com novas zonas do globo, com novos públicos e preferências. O queijo de São Jorge, o vinho do Pico, o chá de São Miguel, o leite, o mel, as conservas, o ananás ou os charutos são apenas alguns exemplos de produção de qualidade elevada, certificada com o selo do arquipélago, e com grandes margens de penetração para lá dos habituais e tradicionais mercados que aqui já olhámos. 

A visão estratégica (curiosamente numa altura em que o próprio Governo Regional dos Açores cria uma plataforma para potenciar o comércio digital da oferta arquipelágica), ganharia com esta diversificação. Há empresários com interesse em colocar produtos açorianos, com etiqueta “gourmet”, em superfícies de grande consumo e em mercados porventura não imaginados anteriormente, como o Brasil ou a África do Sul. A logística associada a estes investimentos, se pensada e trabalhada a médio e longo prazo, não será certamente entrave. O mais difícil, nesta como noutras atividades económicas, não é assumir o risco (que será sempre muito limitado e calculado). É encontrar recetividade e acolhimento, é perceber que existe uma posição para ocupar, uma razoável margem de negócio e uma imensa de prestígio associado à presença do arquipélago e das suas “imagens de marca” em pontos mais distantes do globo. Compete certamente à SDEA descortinar oportunidades, mas é a cada um dos empresários, de “per si”, que está acometida a responsabilidade de querer mais, de olhar mais além, de entender que – apesar dos níveis e quantidades de produção, muitas vezes, poderem ser igual obstáculo – há mais vida, mais desafios e mais mundo a alcançar do que aquele em que as exportações açorianas estão “ancoradas”. A manutenção das apostas de sucesso, por um lado, mas também uma visão mais arrojada e global, mais ampla e cirúrgica do mapa-mundí, pode abrir novos caminhos e estreitar relações onde, há alguns anos atrás, seria talvez impensável e provavelmente impossível chegar.

E, como sempre, há duas vias para a consolidação da “Marca Açores” e dos seus produtos certificados nos diversos mercados: ou uma visão, talvez mais direta e de garantia comprovada, apontada claramente para os mercados já explorados e que, consistentemente, recebem de braços abertos e com boas margens de exploração o que de melhor tem o arquipélago para oferecer, ou, associado, um conceito de verdadeira globalização, que tem de ser trabalhado com método, planeamento e propeção, que potencia a integração de várias áreas de negócio, e que abre ainda mais mundo e cria ainda melhores desafios à economia açoriana, aos seus empresários e à sua imagem internacional.

Rui Almeida
Jornalista da Deutsche Welle
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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