JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 31 de março de 2019

Do poeta-escritor Alexandre Oliveira


A Serviço do Rei

Um caso típico tanto quanto natural para os dias de hoje de um artista que sai de seu lugar com esperança de trabalhar noutro;

  Ele chega com uma mala na mão, disposto a logo trabalhar, começa a mexer no celular como se esperasse ligação. Entretanto, começa a tocar algum instrumento. 

_ Toda vez é assim, ele diz que vem, mas não vem. E diz que estava trabalhando. Imagino, puxando carro, ou assaltando aqueles que ...

Num Clima saudoso e tristonho. Trabalha-se o humor. (Toca música). 

  Antes de começar quero me apresentar. Vim lá de Taperoá. E sei que nem tudo vai bem por cá. É tanta reforma que dá até medo. Portanto meu nome aqui ninguém sabe, ninguém nem viu, nem sequer ainda nem saiu nas manchetes de jornais, nem preciso disfarçar, sabes bem como é que é. Boi com sede bebe lama se na realidade nem tem mesmo o que comer. Eu vim direto de lá para cá assim que vi alguém falando isto e aquilo, e o que não deve da minha Mainha. Que importa se ela já foi uma das meninas que frequentou a casa de Nhazinha.  Ela pode ser tudo. 

Menos alcoviteira, nem mesmo minha pariceira. Ela gosta sim de me ver feliz. Ela gosta de me ver cantar, dançar, sapatear. Ela quer sim ver seus filhos indo à luta. Eu fui primeiro, passeei de mãos dadas com Ana, minha princesinha. Enquanto rainha da minha vida nem desconfia. Ela quer que eu me case para estar arrodeada de netos.  Se acaso alguém fale mal, e diga coisas que não mereça ela faz o sujeito engolir terra seca. Sou o melhor dos filhos dela. Pariceira não já disse!... 

Não admito que digam isto de Mainha... 

Dia desse alguém querendo dar uma de esperto perguntou para ela com aquele ar sarcástico, zombeteiro, como quê porque a mesma babava tanto meus ovos, como se eu tivesse ovos, e fosse uma chocadeira. E com isto ela se arretou e disse poucas e boas. Mandou o sujeito catar coquinho lá nas encruzilhadas, e né que o bonitão quis tirar onda. Aí foi outros quinhentos, eu puxei o cara de lado, e disse poucas e boas... não sei o que... não sei o que... não sei o quer ver.… estás ouvindo?... Quem pensa que sabe da minha vida é Mainha.  
 
Ela é daquelas mães que defende sua cria onde estiver, e não quer ser desafeto de ninguém, nem aquele que diga que me ama e quer tirar onda comigo. E depois queira dizer que ela seja disto, ou daquilo, imagine minha pariceira. É uma coisa de filho para a mãe que não admito. Eu quero fazer amor a noite toda como se fosse uma sanfoninha naquele vai e vem. 

Gente eu faço tudo por esse caquinho de gente.  E não é que dia desses uma dessas periquete saiu do lugar dela e veio falar com Mainha dizendo que eu estava de caso com o namorado dela pelo WhatsApp...   Rapaz!... Prestou não... 

Mainha desceu dos saltos, e criou caso vendo que ela era forte que nem sibito baleado partiu também para cima dela, e né que nisso sopapo vem e sopapo vai não deu outro embate ficou no empate tanto que quando a vi levar à primeira bordoada, eu disse: 

_ Pronto meu Jesus!... Lascou tudo. Desconjuntou de vez a tuaobra, tudo dentro de Mainha, agora ficou deteriorado. Ela agora está a serviço do Rei, e não está com essa força toda para me defender. Mas fiquei sem apartar, fiquei ali na reta guarda, escondidinha de longe sem querer me meter. Eu sabia. Juro que eu sabia que somente minha Mainha, poderia me defender das garras destes animais, e até brigar por causa de mim. Não deixaria nada por menos e nada ficaria sobre pedras. 

Eu sou eu e meu gênio é mesmo assim     sabe dar no couro. E não tem outra visse. A minha é linda e ninguém defende seus filhos com tanta gana, tal qual ela faz por mim. Custou acreditar que eu era assim, desse jeito um tanto desmilinguido, chato, atrevido. Talvez somente parecido com alguém só para não contrariar. Se, acaso este tem que soar a camisa. Porque nem Jesus na causa resolve quando ela se enfeza. Imagine esses bebuns que andam por aí soltando gracinhas e diz que a mesma mais parece um vulcão em cima da cama... um bocado de pé de cana ambulante minha gente. Que eu esteja errado meu pai do céu, que assim nada aconteça nem com ela nem comigo.   E assim lá naquele interior, a festa acabou tão depressa que nem começou. Foi quando para ela eu me revelei depois de passar algum tempo por trás do armário. 

Cheguei assim como quem quer nada e fui abrindo o livro. Minha linda Mainha agora que a senhora descobriu tudo assim sem eira nem beira fica bem melhor para esse seu filho amado.  

Ninguém nesse mundo vai me chamar de veado nem que a vaca tussa na vossa frente, se tossir tem nada não Mainha tem nada não eu simplesmente cuido de ti, tem mel e agrião, e Joaninha bem perto de ti, né possível que saí desta pocilga, e vim para cá para essas vacas tirar onda da minha cara. Logo vou estar de volta. Mas desde já meu coração contigo está. Saiba então que é todo teu e a minha cabeça não te esquece. Pariceira não de jeito nenhum, né mama?... Mas você sabe tudo.  

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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