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terça-feira, 2 de abril de 2019

Do escritor Paulo Coelho



Por Norma Couri em 09/04/2014 na edição 793

Quase todos os espaços culturais da imprensa escrita foram ocupados por Paulo Coelho no último fim de semana (5/6/4). Quatro páginas na Época, a capas do caderno cultural de O Globo e Folha de S.Paulo, meia página no Estado de S.Paulo. Mas só o rodapé da Folha definiu bem para o leitor o fenômeno Paulo Coelho, 66 anos, 27 livros em 31 anos, 174 milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro, fortuna avaliada em R$ 1 bilhão. “Melhor não gastar dinheiro em obra em que não há literatura”: Marcelo O. Dantas, escritor e diplomata, foi certeiro ao comentar o último romance que mereceu tantas páginas, atenção e virou foco acrítico da imprensa brasileira. “Literatura não há em Adultério. Estamos diante de um produto. Apenas isso. A narrativa é linear e monocórdia. Ao estilo, falta inventividade.”

Como as outras personagens de Coelho – Brida, Pilar, Verônica etc. –, a protagonista de Adultério não chega a existir. E o conselho ao escritor é “poupe seu dinheiro”. Em matéria de adultério temos literatura de verdade e adúlteras inesquecíveis do final do século 19 em Flaubert com Madame Bovary, em Tolstoi com Anna Karenina, em James Joyce com Molly Bloom (Ulysses), no verdadeiro bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis, com Capitu e seus olhos dissimulados. Mas o tema vem de muito. Dois séculos antes, Nathaniel Hawthorne, em A Letra Escarlate, já descrevia o drama de Hester Prynne na Salém do século 17.

Não importa como Paulo Coelho consegue emplacar fotos de divulgação que embalam bem seu personagem vestindo capas pretas, fumaças ao fundo, exibindo lanças e flechas, água benta no pedaço, refazendo o Caminho de Santiago na Espanha ou simplesmente meditando. Não importa como consegue grandes passes nada místicos exigindo somas cada vez mais vultosas na troca de editoras. Nem como venceu a disputa pela cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras, derrotando o sociólogo Hélio Jaguaribe. Afinal, a atriz Julia Roberts é sua fã. “Ele nos faz sentir que tudo é possível”, admitiu a atriz. O que conta é saber o que se passa na cabeça dos leitores. Segundo os críticos numa arrasadora matéria de Veja há 16 anos (15/04/1998), o engodo sempre foi claro:

** Bárbara Heliodora: “Não li uma linha dele, ouço dizer que é horrível e acredito, a única coisa que me fascina é sua capacidade de autopromoção.”

** José Paulo Paes: “Tenho ojeriza por literatura esotérica… é o tipo de livro que resolve todos os seus problemas enquanto você está lendo, mas assim que você o fecha, as dificuldades aparecem com ímpeto redobrado.”

** Wilson Martins: “Misticismo barateado, vulgar, ao parafrasear os grandes místicos.”

** Cândido Mendes de Almeida: “Não é um texto, mas um produto de loja de conveniência.”

** Silviano Santiago: “É preciso desmitificar o sucesso que ele faz na França… O público francês é tão medíocre ou pouco sofisticado quanto o grande público de qualquer outro país… Paulo Coelho confirma a existência, hoje em dia, de um gosto globalizado e de um mercado de livros globalizado. Ele é o nosso único representante nesse mercado.”

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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