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domingo, 19 de maio de 2019

Henrique Szklo


Preocupado com o que os outros pensam de você?

Primeira parte do artigo falando sobre o impacto da Opinião dos Outros em nossas vidas
 Henrique Szklo  18 de dezembro de 2018

Uma vez assisti a uma experiência num destes canais de TV a cabo onde vinte pessoas foram colocadas em uma casa sem saber que tipo de situação iriam enfrentar. Sabiam apenas que eram uma espécie de cobaias em uma experiência comportamental. Câmeras registrariam tudo o que acontecesse lá. No primeiro dia, como não aconteceu nada de relevante, o comportamento de todos foi normal.

No segundo dia, porém, tudo mudou. A produção distribuiu, aleatoriamente, camisetas com grandes letras na parte frontal: dez unidades com a letra A e dez com a letra B. A única e exclusiva solicitação foi que as vestissem, sem explicar o porquê. Os que receberam a camiseta A, imediatamente começaram a sentir uma indisfarçável sensação de superioridade. Já os que vestiram a camiseta B, se mostraram perplexos e inconformados. Mas quem disse qual era o significado de A ou B? Ninguém. Porém, aquelas letras davam a todos a sensação de serem uma nota, um tipo de classificação e julgamento.

Um por todos…

Mais interessante que isso, foi que em pouquíssimo tempo os grupos foram se formando: os de camiseta A de um lado e os de camiseta B de outro. E os problemas vieram junto. Um desavisado B resolveu conversar com um grupinho de A’s. Ao “retornar” para o grupo B, foi criticado duramente: “O que você estava fazendo lá?”. A partir daí, os conflitos só recrudesceram. Competições começaram a ser realizadas e o ódio começou a ser moeda corrente entre as duas equipes. Loucura, mesquinharia ou carga genética?

Quer ser meu amigo?

A terceira opção é a mais provável. Nossa espécie está programada para viver em grupo e isso faz com que estejamos o tempo todo buscando indivíduos que possuam, sob nossa ótica, alguma característica que compartilhemos: aparência, nacionalidade, gostos, objetivos, desejos, laços, enfim, qualquer coisa que possa nos unir, formando uma identidade comum, ampliando assim nossas chances de sobrevivência.

A formação de um grupo gera um sentimento de proteção tão intenso por parte de seus membros, que é normal que eles passem a hostilizar pessoas que não estejam sob a mesma bandeira. Essa agressividade é fruto também da insegurança e do medo de que o alienígena seja capaz de desfazer os laços que os unem e isso não pode ser permitido.

Por estarmos tão preocupados em formar grupos, é natural que sejamos muito suscetíveis a o que os outros pensam ou não sobre nós. Somos muito preocupados com a Opinião dos Outros.

O ser humano se associa a grupos que, para se considerarem grupos e fortalecerem seus laços, precisam compartilhar dos mesmos códigos, das mesmas ideias, das mesmas crenças, dos mesmos padrões. E o ser humano se adapta. Se ele sentir que o “certo” é seguir um caminho diferente daquele que ele mesmo acredita, sofrerá uma pressão interna para mudar. Pode ser que mude ou não, depende da personalidade de cada um. Mas a pressão vai estar lá, presente e incômoda. Queremos estar sempre “certos”, na nossa própria opinião mas principalmente na dos outros, por isso nos adaptamos quando necessário.

Pedaços de carne ambulantes

Imagine que uma pessoa não é uma pessoa e sim apenas um pedaço de carne ambulante. Então, qual a importância da opinião de um pedaço de carne sobre seus atos? Nenhuma. Não vai mudar a sua vida, a não ser que ela tenha alguma influência direta em suas atividades, como por exemplo, um cliente que deixa de comprar um produto seu. Mas fora essas situações específicas, que diferença faz o que o pedaço de carne da direita ou aquele outro lá atrás está pensando de mim? De fato, nenhuma. Se você tem o coração mais sensível, pense em seu animal de estimação. Você já se preocupou com o que seu cachorro vai pensar diante de um ato reprovável seu? Imagino que nossos amigos irracionais são as maiores testemunhas de barbaridades que executamos inadvertidamente em bases diárias, porém, amigos fiéis que são, mantém total pusilanimidade. O Max, meu falecido amigo, que o dissesse.

O Max sempre atento aos meus movimentos. Mas como bom amigo que era, jamais me julgou pelos meus atos

A diferença entre um pedaço de carne ou um cachorro ou um gato, uma barata de estimação, um zumbi ou o que quer que seja, é que por alguma razão, quando o outro é um ser humano vivo, alerta e mais velho que uma criança, ficamos realmente preocupados com suas opiniões sobre nós, mesmo que ele sequer tenha nos notado ou nos conheça. Quando há seres humanos à nossa volta, nos preocupamos (uns mais, outros menos) com o que eles pensam de nós. E como este sentimento está arraigado em nosso processo mental e emocional, o trabalho para diminuir sua influência sobre nós é nada menos que inútil.

Opinião dos Outros? Que opinião? Que outros?

Não precisamos saber. A simples possibilidade de alguém pensar qualquer coisa sobre nós, já nos apavora. Por isso grande parte do que fazemos ou deixamos de fazer está relacionada com a pergunta fatal: o que os outros vão pensar? E o mais curioso de tudo é que, pensando 7 Minutos, de fato não faz a menor diferença o que os outros pensam de nós. Mas, por um comando do nosso inconsciente, somos obrigados a considerar essa possibilidade com grande relevância, mesmo que o consciente não esteja nem aí. Como já disse, o que eles irão pensar está diretamente ligado à possibilidade de formarmos um grupo. É o que eu chamo de Aschismo (no próximo artigo explicarei este nome).
Pressão de grupo (real ou imaginária)

Muitas vezes nossas atitudes são orientadas pela pressão de grupo, ou seja, ficamos preocupados com a reação que nosso grupo social (seja ele do trabalho, de casa, dos amigos, da escola, não importa) terá em resposta ao nosso comportamento. É a Opinião dos Outros, que, curiosamente, nem sempre é real. Muitas vezes apenas imaginamos que seremos julgados por aquilo que estamos pensando em fazer ou falar, e que, por medo, deixamos justamente de fazer ou falar. É uma pressão invisível mas muito real para o cérebro.

“Eu queria tanto levar uns doces aos meus colegas no novo trabalho, mas acho que se fizer isso vão me achar idiota, puxa-saco, sei lá. Melhor não levar”. O que aconteceu aqui? Você ainda não sabe, de fato, a reação das pessoas, mas já sofre por antecipar um estado de coisas que não há como ter certeza sem que o fato se materialize. E seu comportamento é alterado em função disso. Ou seja, você sofreu uma pressão de grupo imaginária.

Um belo dia, você resolve controlar o medo e leva os doces ao trabalho. Resultado: todo mundo estranha sua atitude e fica olhando pra você de soslaio, não conseguindo conter seu riso, fazendo comentários às suas costas, ou seja, neste caso você sofreu uma pressão de grupo real. Só que para o cérebro, não faz diferença nenhuma: se a pressão é real ou se é imaginária, tanto faz. Ele compreende como pressão e ponto final.

O cérebro, em sua natureza puramente animal, não sabe diferenciar o que é real do que é imaginário. Quem faz isso, ou pelo menos tenta, é a Razão, ferramenta exclusiva do nosso consciente. Ela é quem analisa a situação e vê se aquilo é possível ou se é apenas uma viagem. O inconsciente não tem como averiguar (e não foi feito para isso) a autenticidade ou não de qualquer evento. Nosso cérebro foi feito para acreditar. Acreditar no que seus sentidos informam, mas principalmente em acreditar que a sua percepção das coisas é uma verdade inconteste, incluindo-se aí, a Opinião dos Outros.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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