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sábado, 4 de maio de 2019

O que você pensa dos Blogues - Francisco Fialho


O Amigo Carlos Alberto Alves convidou-me para escrever sobre o tema. Aceitei, sabendo que me estou a meter numa embrulhada da qual espero sair.

Ando nisto há 4 meses e petisco pouco da coisa...Novas tecnologias e eu somos quase incompatíveis.

Veio-me logo à memória o tempo da minha infância, em que não havia as modernices da agora. Quando se passava quase todo o dia a brincar na rua. Era a época de jogar ao peão e bolas de vidro (hoje berlindes). De caçar pássaros com cetil (armadilha de rede) em que os irmão Simões da Guarita, eram peritos, connosco escondidos atrás dos muros dos cerrados das actuais avenidas. Na altura própria era puxado um cordel e lá caia a rede sobre a passarada. Brincava-se com carros de bois em madeira, carros de folheta e jogava-se ao peão. Ia-se pescar e tomar banho no Porto de Pipas. A cana de pesca não era de bambu, que isso era coisa rara e cara. Brincava-se às touradas à corda, jogava-se à bola em qualquer canto. Já nos tempos do Liceu, foi no famoso "estádio da pedra", hoje pateo do Museu de Angra. Na Travessa das Hortas, próxima da Guarita e da Igreja da Conceição, era onde eu morava. Lugar de luxo para mim, com casas baixas e um sotão, à excepção da casa do Sr. Valdemar Sopa, que tinha mais um piso e uma carpintaria, além da papelaria Cristal e da Pastelaria Paris, ao lado da Fanfarra, onde se comiam sandes de patês-fois e bebiam coisas vindas do cerrado grande (Base Americana), a tal donde os Americanos fugiram depois de deixarem a Ilha contaminada e a precisar de vacinas... Enquanto as barrigas andaram cheias e o BX funcionou estava tudo OK!...

Como a casa do Sr Valdemar era grande ele alugava uma parte. Lembro-me do meu vizinho José Berto, grande músico e copofónico, que foi meu professor de música no Liceu. Quando a coisa descambava lá tinha de vir a vizinha PSP dar umas cacetadas no José Berto, para acalmar... Na minha Travessa havia o forcado Manuel Chicharro, o João Policia (alcunha trompasso), Anibal Verissimo, regedor da freguesia da Conceição e dono da pastelaria Pérola Azul, na Guarita. Frequentava todos esses lugares, mais o bilhar da Fanfarrava e a respectiva esplanada, no Verão, com filmes e comédias do Porto Judeu. Ia ao quartel da PSP e à Praça do Gado, onde agora é o quartel dos bombeiros. Em frente ficava a Mercearia do Sr Menezes, onde precisava ter olho bem aberto com o peso e o troco... Mais abaixo e que ainda hoje existe, a leitaria de Santa Bárbara, que na época era um estabelecimento bem bom. Dos meus vizinhos falta falar do Mestre Francisco Aguadeiro. Como os últimos são os primeiros, e de Francisco para Francisco, éramos quase como pai e filho. Mestre Francisco tocava na Recreio dos Artistas com o meu avô paterno, Cardoso, ambos da Ribeirinha. Espalhavam o perfume dos seus instrumentos pelas ruas de Angra... Mestre Francisco era um homem grande e um grande homem. Trajava os seus inseparáveis alvarozes, mala de ferramentas na mão e mais tarde arranjou uma motorizada com cabina para transportar os materiais. Onde estivesse havia alegria. Piada fácil e sempre uma história ou anedota para contar. Um ferrenho lusitanista e ser humano como poucos... Num belo dia vejo a filha de Mestre Francisco com o que me pareceu serem umas botas de cano!... Estranhei e aproximei-me. Lá estava Mestre Francisco de mangueira na mão a lavar as pernas da filha... Não eram botas mas uma caidela na fossa dos presos que construíam o Palacio da Justiça. A Zezinha tinha ficado cagada até aos joelhos?!...

Mas o que tem a ver isto com o que o Carlos Alberto me pediu?

Nada e tudo. Adorava ouvir relatos de futebol e fazia os meus à janela de casa, com um búzio a servir de microfone...

Hoje sei que há redes sociais, com blogues pelo meio. Aí poderão ver vários tipos. Pessoas transformam os blogues em quase jornais, diários pessoais de quem os escreve.

Conheço um pelo qual tenho um carinho especial. O Bagos de Uva, do Luís Brum, dos Biscoitos. Muita informação escrita e documentada em fotos. Ainda tenho muito para lá explorar...

Se gostava de ter um blogue? Por quê e para quê? E para falar sobre quê? Não, não quero. Vejo tanta maldade e falta de educação, que prefiro ficar onde estou e como estou. Respeitando muito quem os tem, nomeadamente, o Carlos Alberto Alves, que admiro, por ter presenciado a sua iniciação no jornalismo e o salto que que deu.

Não é graxa. Continua com o teu bom trabalho e como já fostes árbitro, se tiveres de mostrar um cartão vermelho ao que escrevi, não hesites.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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