ANTONINA LOBÃO UMA VOZ MARCANTE DO FOLCLORE
Pelo que constato, e embora esteja longe (contudo, não deixo de regularmente acompanhar o que se passa na nossa terra), perdeu-se um pouco aquele entusiasmo que havia pelo folclore, talvez porque não aparecem mais incentivos e apoios governamentais ou, por outro lado, o fato das sociedades que abriam as suas portas aos entusiastas por esta cultura passarem por enormes
dificuldades, inclusive para a formação de elencos diretivos. Lembro-me, por exemplo, da Recreio dos Artistas ser uma das sociedades que mais apoiou o folclore, servindo de paradigma o Grupo de Baile da Canção Regional, com grandes vozes, grandes acompanhantes e não menos grandes dançarinos. De vozes do folclore, recordar com saudade o meu bom amigo António Borges. De violas, outro amigo que comigo trabalhou e que, muitas das vezes, a meu lado comentava as saídas do grupo, o empenho de todos, enfim, o verdadeiro amor pelo folclore da ilha Terceira. Falo de Laureano Correia dos Reis, também ele fazendo parte do ciclo de amigos de Vitorino Nemésio, outro impulsionador destas raízes culturais que o tempo jamais apagará, mau grado o fato de não haver uma maior continuidade com o surgimento de mais vozes de referência, conquanto se reconheça que na Terceira existem cerca de 15 grupos, número bastante agradável. Felicitamos aqueles que ainda estão, alguns deles já com muitos anos de folclore.
Chegou ao meu conhecimento que, no passado dia 25 de fevereiro, faleceu Antonina Lobão considerada por muitos uma voz marcante do folclore e, obviamente, uma das mais persistentes componentes do Grupo de Bailes e Cantares da ilha Terceira que regista uma digressão à Arménia, claro com a inclusão de Antonina Lobão no elenco. E outra coisa não era de esperar. Sem dúvida, uma das vozes imprescindíveis, ou se preferirem uma mais-valia do grupo.
Em 1969, ainda na época das gravações em vinil, Avelino Teixeira, emigrado para o Canadá, grava em parceria com Antonina Lobão dois trabalhos discográficos produzidos pela editora "Tagus" de Lisboa. Nestes, canta o folclore terceirense acompanhado por Laureano Correia dos Reis e Norberto Bettencourt. Alguns destes temas foram, mais recentemente, inseridos na Coletânea de Folclore Açoreano, da editora lisboeta "Movie Play".
Antonina Lobão também gravou uma desgarrada com Guy Fernandes, um autêntico sucesso, para mais que Guy Fernandes sempre foi uma enorme referência do nosso meio artístico. Quando digo nosso, falo dos Açores na sua verdadeira essência.
Emigrado para o Canadá, Avelino Teixeira, outro artista que iniciou a sua carreira na ilha Terceira e que é natural de São Mateus da Calheta, opina sobre Antonina Lobão:
“Sempre ouvira dizer que era natural da Ilha Branca (Graciosa).
Encontrei-me com ela, pela primeira vez, quando Maria do Carmo e Rodolfo Brum me introduziram aos membros do Grupo Da Canção Regional Terceirense da Recreio dos Artistas (em 1967) a que ela já pertencia bem como sua mana Ariovalda. Tinha eu então regressado da minha prestação de serviço militar obrigatório em Timor. De imediato, notei que era uma senhora educada, muito delicada e simpática. A sua voz tinha um timbre estridente e agudíssimo, mas peculiarmente melódico. Juntos participamos nas primeiras gravações do grupo, em Vinil de 45 RPM e, mais tarde, na gravação das mais importantes modas regionais terceirenses em dois discos de Longa Duração (LP), numa realização do Clube Musical Angrense e produção do Rádio Clube d”Angra. A referida gravação encontra-se disponível em CD, em forma de colectânea, juntamente com modas regionais de S. Miguel, compilada pela Movieplay em 1996.
A última vez que tive o ensejo de conviver com Antonina Lobão, depois de ter trabalhado a seu lado na Caixa de Previdência de Angra do Heroísmo, fôra em 1996 quando, com minha esposa Carolina Maria, a visitamos na sua ampla e confortável residência, sita na Rua do Rego, em Angra do Heroísmo. No conforto do seu lar, cuja decoração era absoluto sinónimo do seu bom gosto e carisma, tomamos chá e recordamos amenamente os momentos vividos em espectáculos e confraternização que, indubitavelmente, ficarão para sempre comigo. De uma inconfundível personalidade, Antonina Lobão foi uma das melhores vozes do Arquipélago dos Açores”.
Este testemunho de Avelino Teixeira retrata bem o valor de Antonina Lobão e o muito que ela fez em prol do folclore da ilha Terceira. E quero aqui corroborar aquela última frase de Avelino Teixeira, isto é, Antonina Lobão de uma inconfundível personalidade, bem expressa em todas as suas atuações.
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