ASPECTOS DA NOSSA TERRA (3)
A POÇA DA AREIA--PORTO MARTIM
No tempo dos nossos avós, havia muita gente de Angra e da Vila da Praia que ia passar a estação calmosa no lugar do Porto Martim. Iam aqueles que possuíam suas vinhas com casa de prazer e ainda os que se davam ao luxo de alugarem uma casa para o mesmo fim.
Quando era pela festa de Santa Margarida, o Porto Martim tomava ares festivos. Por toda a parte se viam bandeiras de cores variegadas e as casas dos senhores da Praia e da cidade transformavam-se em autênticos centros de reunião.
A filarmónica da Vila de S. Sebastião tinha normalmente, o encargo de ir tocar atrás da procissão e, por isso, aproveitava a oportunidade para visitar os amigos.
Eram visitas obrigatórias as casas dos Srs. Dr. Alexandre Ramos, grande amigo da Vila de S. Sebastião, onde tinha um partido médico, João das Neves e Gabriel das Neves, grandes músicos da Vila da Praia, do Dr. Sousa Júnior, lente da Universidade de Coimbra, do Sr. Mendes, farmacêutico na Vila da Praia, e de muitos outros senhores da Praia e da cidade, os quais pela sua popularidade mereciam a honra de lhes tocarem à porta o Hino da Sociedade. Tais honras pagavam-se com foguetes e o tradicional mata-bicho.
Por esses tempos, o Porto Martim constituía uma das melhores regiões vinícolas da nossa Ilha, com grande relevância do vinho verdelho, que era considerado uma especialidade. Infelizmente, tudo foi decaindo. A pouco e pouco, os proprietários foram abandonando as suas vinhas, deixando-as encher de mato quase totalmente.
Ora, há uns cinquenta anos, as pessoas que iam veranear no Porto Martim tomavam seus banhos de mar na Baía da Câmara, que fica situada em frente da Ermida de Santa Margarida.
Para o efeito, aproveitavam a Poça da Maria do Rosário, uns trezentos metros a Sul da Ermida, mesmo à beira da estrada. As pessoas mais recatadas, ou que gostavam de estar mais à sua vontade, iam até à Poça da Areia, quase no extremo da Baía, a qual por ficar longe da entrada, estrada menos sujeita aos olhares dos curiosos.
Deve dizer-se que, naqueles tempos, os fatos de banho dos homens lhes cobriam todo o tronco e que os das senhoras, além de satisfazerem a essa condição, compreendiam uma espécie de calças que fechavam com elásticos na barriga da perna, sendo confeccionados, geralmente, de flanela.
Com o decorrer dos anos, os modelos dos fatos de banho sofreram profundas alterações, na côr, no formato e no tamanho, mas a Poça da Areia continua a ser o lugar preferido pelos veraneantes do Porto Martim para tomarem os seus banhos de mar.
Com o intuito de melhorar os ditos banhos, a actual Câmara Municipal da Vila da Praia da Vitória tomou a louvável iniciativa de construir no local dois pequenos edifícios com vestiários, sanitários e chuveiros, junto dos quais se fez também um parque para viaturas.
Com os arranjo ultimamente efectuados, na Poça da Areia, pode dizer-se que o Município Praiense prestou um grande serviço aos habitantes e aos veraneantes do Porto Martim.
Lajes, Dezembro de 1962
L.M.D. (iniciais de Luís Machado Drumond)
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