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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Artur Cunha de Oliveira - PRESIDENTE, DIRETOR, POLÍTICO


ACO – PRESIDENTE, DIRETOR, POLÍTICO

Há pessoas que, ao longo dos tempos, se têm revelado pela sua enorme capacidade intelectual, ora no desporto, ora na comunicação, ora na política, enfim, em muitos outros vetores ligados à cultura e ao associativismo, por exemplo.

Grande parte da minha infância foi passada no Bairro Oriental da cidade de Angra do Heroísmo, o Corpo Santo. Aliás, ali fui nado e criado, mais concretamente na zona do Adro Santo, onde moravam os meus avós maternos, ao lado do José Salcena, pai do José Luís (RIP) que trabalhou na Farmácia Sousa e primo do nosso grande amigo Fernando Costa, residente no Canadá. Assíduo frequentador do Marítimo e seu atleta desde os juvenis aos seniores, muito embora não tenha passado de um reservista, conheci no clube alguns presidentes que não eram residentes no Corpo Santo, mas que, por outro lado, sempre se revelaram grande amigos do clube da Cruz de Cristo, citando, nomeadamente (e pelos contatos que tive), os falecidos Dr. Francisco Mendes Pereira e António Deodato Ferreira (o Ferreira da Açoreana de Seguros, como era conhecido). Mais tarde, e em outro ciclo da vida, e já após ter regressado de Angola, conheci o Deodato Ferreira como presidente da Sociedade Recreio dos Artistas.

Claro que faltava mais um desses presidentes, este ainda no rol dos vivos e com uma bela disposição, conforme constatamos na nossa recente ida à ilha Terceira (Dezembro/Janeiro de 2010). Trata-se do Dr. Artur Cunha de Oliveira que o conheci, primeiramente, na sua fase da vida sacerdotal. Cunha de Oliveira, pelo seu carisma de homem bastante culto, foi um dos presidentes marcantes na vida do Sport Club Marítimo. Dizia-se sempre: não ganhamos nada em campo (exceto um ou outro jogo e a célebre Taça Expedicionários da Companhia do BII 17 que foi para a Índia), mas, por outro lado, o nosso presidente é o melhor de todos, isto em relação aos outros clubes. Enfim, o que naquela altura se comentava para contrapor aos muitos desaires competitivos que, bem vistas as coisas, nunca pesaram na vida associativa do clube. Perdia-se de cabeça erguida (levando até cabazadas) e, à noite, a sede do Marítimo estava sempre bem frequentada de atletas e associados. Acresce que também os outros dois presidentes referenciados contribuíram sobremaneira para o enriquecimento sócio-cultural do Sport Club Marítimo.

Já adulto, já com o bichinho do jornalismo, e puxado em boa hora pela mão do José Daniel Macide (RIP), entro em A União (então vespertino) e, mais uma vez, o grato prazer de conviver com Artur Cunha de Oliveira, então diretor, e chefe de redação Artur Goulart, hoje a residir em Évora e nosso amigo sempre presente no facebook. Direi que, nesta vida de jornalismo, que completa 48 anos a 10 de Março próximo, foram duas pessoas que me marcaram pela sua capacidade e idoneidade. Lembro-me que houve certo desaguisado com a Associação de Futebol de Angra (mais concretamente com o então presidente, o falecido Francisco Borges Pinheiro), tudo porque negaram a passagem de um cartão livre trânsito para a minha pessoa, tendo sido alegado que o JD Macide não tinha vínculo para assinar o ofício que foi dirigido à dita AFAH. Cunha de Oliveira não estava na ilha e, quando voltou ao jornal após essa mesma viagem, resolveu tudo num ápice, com um simples telefonema. Como disse o Macide: “o peso do homem das saias”, querendo referir-se à indumentária de sacerdote de Cunha de Oliveira que usou a sua inteligência para resolver um caso, que nunca chegou a ser caso, mas tão somente um finca-pé associativo, quiçá pelo fato de, uma semana antes, o JD Macide ter escrito um artigo que não agradou ao Borges Pinheiro.

Depois, seguiu-se o episódio que mexeu emocionalmente comigo e com o JD Macide. Por discordar de uma decisão do bispo de então (Manuel Afonso de Carvalho?), Artur Cunha de Oliveira decidiu não continuar na direção de A União, tendo sido acompanhado, nesta sua decisão, pelo Artur Goulart, num gesto de inequívoca solidariedade. E nós dois? O JD Macide disse-me logo: “Carlos eu também vou sair, mas se queres continuar é contigo”. Claro que eu jamais iria roer a corda e fiquei ao lado do Macide, na solidariedade para com duas pessoas que sempre nos respeitaram e deles sempre recebemos incondicional apoio quando, via missiva, alguns rebatiam as nossas opiniões. Nessa noite, eu e o Macide fomos carpir as mágoas para o Porto das Pipas, acompanhados pelos habituais amigos, João Bendito, Silvio Lourenço, João Frederico Câmara. Não vou esconder que, nessa noite, muito chorei. E será feio um homem chorar? 

Volvidos alguns anos, encontro Artur Cunha de Oliveira em Ponta Delgada (São Miguel), no Solmar, ele que então já era Eurodeputado Socialista. Com a mesma afabilidade de costume, parabenizou-me pelo fato de eu ter tido a coragem de vir para São Miguel chefiar a redação do Jornal do Desporto e simultaneamente deixou-me o convite para eu visitar Bruxelas, ou seja, o Parlamento Europeu.
...E volvidos mais anos, Dezembro de 2010, no Modelo, encontro o Dr. Artur Cunha de Oliveira. Deu-me o abraço da ordem, de amizade e fez o seguinte comentário, virado para meu irmão que me acompanhava: “este homem ainda tem uma grande cabeça para relatar acontecimentos passados”. E ainda acrescentou: “leio todos os seus artigos”. Grato a Cunha de Oliveira por fazer parte desse grupo que me acompanha. Se hoje já sou um jornalista referenciado, a sua quota-parte, quando passamos por A União, nunca foi esquecida. Por isso, hoje, presto-lhe a minha homenagem em reconhecimento por tudo aquilo que fez pela ilha Terceira e pelos Açores em particular.     

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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