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domingo, 16 de junho de 2019

Da escritora Graziela Veiga - HOMENAGEM A UMA SENHORA MUITO ESPECIAL!


HOMENAGEM A UMA SENHORA MUITO ESPECIAL!

Hoje, por ser Dia do Bodo da Santíssima Trindade, lembrei-me de uma pessoa que muito contribuiu para os Bodos, a Senhora Conceição Ferreira (ribeirinha), como era mais conhecida. 

Eu tinha 11 para 12 anos, quando os meus pais fizeram uma Função. Haviam prometido aquando o nascimento do meu irmão mais novo, pois a minha mãe esteve em risco de vida e a aflição foi tanta, que se lembraram do Espírito Santo. 

Tiraram o pelouro no dia do Bodo no ano anterior, e logo por sorte, coube-lhes o Espírito Santo todo o ano, assim, depois do Bodo, o cortejo dirigiu-se a nossa casa a fim de deixarem a coroa e as respectivas insígnias, durante aquele ano. 
Em 1974, os meus pais cumpriram a promessa com coroação e função de sopas aos convidados, no dia do Bodo. Naquele ano, os meus tios e prima do Brasil estavam cá de visita e a minha prima também coroou, bem como o meu irmão mais novo. 

Como se tratava de uma coroação de muita responsabilidade e a fim de que tudo estivesse bom, a minha mãe contratou duas mulheres para ficarem a tempo inteiro durante uma semana a fim de cozerem pão e massa sovada. Uma delas era uma rapariga nova e era filha da tia Conceição, por isso, ela sempre que podia, ia lá ter a nossa casa, pois era uma mais valia, visto ser uma pessoa com muita experiência e sabedoria. 

Como nos coube o Domingo do Bodo, havia o hábito de levar no cortejo da parte da tarde, um pão enorme de massa sovada, um pão de alqueire e uma posta de carne assada, também ela bastante grande, uma vez que era para ser distribuída por todos os convidados e aqueles que estivessem presentes no Bodo. 

Lá se procedeu à cozedura do pão grande de massa sovada. Juntaram-se várias mulheres, até a minha tia também esteve presente. Note-se que houve vários critérios em relação à cozedura do pão, mas no fim, o pão saiu mais para o escurinho, embora estivesse levedado, mas o forno tinha falhado. A minha tia que tinha sido a principal responsável, desejava que a minha mãe aceitasse o pão, pois embora estivesse escurinho, dizia ela que estava bem apresentado. A minha mãe não se conformava. 

De noite, a minha mãe levantou-se, não disse nada a ninguém e lá tratou de amassar outro alqueire de massa sovada. O incrível é que quando batia duas horas da manhã no relógio, entrou a tia Conceição, mesmo na altura que a minha mãe estava a meter o pão nas folhas. A minha mãe ficou estupefacta. Como é que a tia Conceição tinha chegado na altura certa sem ela lhe dizer nada. Era a experiência da vida. Pois ela sabia que a minha mãe não estava contente e decerto calculou o que iria acontecer. E assim, as duas no silêncio da noite, cozeram o pão, e ficou tão bonito o quanto gostoso, um asseio. Quando ia no Cortejo da parte da tarde para o Bodo, foi surpresa para todos, pois ninguém esperava aquele pão, mas sim, o outro que tinha ficado meio escurinho. 

Resumindo. A tia Conceição era uma Mulher de fibra, daquelas que se pode contar com ela a 100%. Era mãe de seis filhos, como a minha, muito trabalhadora e engenhosa. Era uma pessoa com quem se podia conversar e a minha mãe entendia-se muito bem com ela, pois falavam a mesma linguagem da vida. 

Já lá estão, estas duas Grandes Mulheres, decerto, num bom lugar, sentadas à direita de Deus, a descansar, pois nunca tiveram tempo de o fazer neste Mundo.

16-06-2019
Graziela Rocha Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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