MAIS VALIA TER FICADO CALADA!
Há muitos anos, tantos que nem sei, a minha avó materna Maria da Luz, vivia na freguesia da Serreta, sua freguesia natal e a da minha mãe. Era uma pessoa que se condoía com as necessidades alheias, pelo que estava sempre a ver se repartia para com os mais necessitados. Segundo contava a minha mãe, viveu uma infância abundante, de fartura, pois a minha avó tinha sido emigrante no Brasil e Estados Unidos da América, pelo que amealhara dinheiro de forma a que pudesse fazer uma vida mais folgada. Além disso, o meu avô tinha lavoura, mantendo sempre um empregado, a fim de que desse conta do recado. +pois naquela altura, não havia máquinas, era tudo trabalho manual.
Com isto, quero dizer que os meus avós eram no que se diz na gíria, amigos de dar.
Então, certo dia, encontrando-se um grupo de senhoras junto a um chafariz, na freguesia da Serreta, chamado o chafariz das do Álamo, a minha avó também lá estava e a conversa foi mais ou menos assim.
Havia uma senhora que era de fora da freguesia, nomeadamente natural das Flores, tendo fixado ali residência. Tinha vários filhos e vivia com algumas dificuldades, pelo que recebia ajuda de algumas pessoas da freguesia.
E então, estando ela no chafariz, em amena cavaqueira, lembrou-se a nomear o que as pessoas lhe tinham dado.
- Olha, fulana deu-me isto, sicrana deu-me aquilo... a minha avó estava a ouvir a conversa e de repente interrompeu.
- A senhora não há-de nomear as pessoas e o que lhe deram. Há determinadas pessoas que não gostam.
- O que é? Não faz mal nenhum. Eu nunca disse que a senhora me tinha dado uma manta!
Pronto! E assim ficou toda a gente a saber o que a minha avó lhe tinha dado.
A minha avó sempre contara esta história, chamando a atenção para quando alguém desse alguma coisa, não soubesse a mão direita o que fazia a esquerda, tal como narra a Bíblia, pois era apanágio praticar caridade, mas sempre dentro do anonimato.
04-06-2019
Graziela Veiga
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