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terça-feira, 11 de junho de 2019

Da escritora Graziela Veiga - MILAGRE ATRIBUÍDO AO ESPÍRITO SANTO!


MILAGRE ATRIBUÍDO AO ESPÍRITO SANTO!

Na década de oitenta, após o sismo, passou-se tanta coisa que levaria tempo a esmiuçar, e provavelmente a maioria das pessoas nem estaria disposta a ouvir tudo que se seguiu a tão fatídico dia. 

Na altura, o meu pai com 52 anos, ficou muito afectado. Sendo ele uma pessoa nervosa, toda aquela desgraça, provocou-lhe desorientação a todos os níveis, acabando por adoecer com uma grave depressão. 

A depressão foi tão profunda, de tal ordem que, deixou de comer, preocupado com os filhos, pois dizia ele, que via quadros de fome, em que iria haver escassez de alimentos e a melhor forma de nos salvarmos, nós filhos, era ele não comer para guardar. A fim dele comer, a minha mãe fazia a comida e entregava a uma vizinha nossa amiga, Senhora Isaltina, que fazia o favor de vir trazer ao meu pai, dizendo que era sua e fazia aquela esmola. Assim, o meu pai lá ia comendo alguma coisa. 

O estado de saúde veio a agravar-se de dia para dia, tendo a minha mãe recorrido ao Dr. Rui Idálio Graça, na altura, distinto Neurofisiologista com curso tirado nos Estados Unidos da América. 

Tendo o Dr. Graça ascendência nas Doze Ribeiras, passou muitos fins de semana naquela freguesia, enquanto criança e adolescente e porque tinha gosto pela terra, muitas as vezes acompanhou o meu pai nos serviços da lavoura, que muito apreciava. 

Tratou o meu pai muito bem, durante um ano. Naquela altura, a minha mãe chegou a pagar na Farmácia Vasconcelos a avultada quantia de 12.000$00 em medicação, o que levava à admiração dos próprios empregados da Farmácia. Então perguntavam - Mas esta medicação está a fazer bem? 

Sim, a medicação estava a fazer bem. O meu pai tinha entrado num estado quase de coma, ou seja, deitava-se na cama de um determinado lado e ali ficava inerte. Só se levantava para tomar banho, comer, com a ajuda da minha mãe e assim ficou durante um ano. Agora, penso o quanto foi duro para a minha mãe, cuidar da vida e do meu pai com tudo destruído pelo sismo. E ainda, dois filhos a cumprir o serviço militar. 

Como a minha mãe sempre foi uma pessoa de muita fé, prometeu dar uma vaca em esmolas e velar a coroa do Espírito Santo lá em casa, mesmo sem coroação, pois as condições na altura, não eram as melhores. 

Estava a aproximar-se o tempo da distribuição das esmolas, ou seja, o cumprimento da promessa que a minha mãe havia feito. 

Chegou a sexta-feira e os convidados para desempenharem as funções para que estavam incumbidos, lá apareceram em nossa casa. Então aconteceu o inolvidável. 

O meu pai, na altura em que se preparavam para abater a vaca que seria oferecida em esmolas, levantou-se da cama, tomou banho, mudou de roupa e juntou-se aos homens que lá estavam, como se nada tivesse acontecido. Levou o ceptro da coroa a beijar aos presentes, distribuiu bebida e massa sovada e num momento de alegria e admiração, ressuscitou para a vida. Foi como se tivesse saído de uma longa hibernação que tinha durado um ano. 

Até hoje, o meu pai nunca mais tomou nada para o sistema nervoso. Foi um tratamento eficaz, na hora certa, com muitas desconfianças, pois o Dr. Rui Graça sempre foi incompreendido por muitos, sobretudo os colegas que sempre o desacreditaram.

No caso do meu pai, apraz-me dizer que foi um especialista à altura. É verdade que se gastou muito dinheiro, pois as consultas eram pagas no seu consultório. No entanto, pela amizade que tinha para com o meu pai, algumas não chegaram a ser pagas, tendo sido oferta. 

Assim, com a colaboração de todos, o Espírito Santo operou um Milagre na vida do meu pai que chegou aos dias que correm, com a bonita idade de 93 anos.

09-06-2019
Graziela Rocha Veiga

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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