JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Da poetisa-escritora Graziela Veiga - A SENSAÇÃO DE NÃO TER CASA ONDE MORAR...


A SENSAÇÃO DE NÃO TER CASA ONDE MORAR...

Hoje, por momentos, senti essa sensação. 

Tenho andado atarefada com as limpezas gerais da casa que, graças a Deus estão no seu término. 

Aproveitando o bom tempo e o dia soalheiro com que Deus nos presenteou, abri todas as janelas, a fim de arejar. Claro que quando se abre portas e janelas, (neste caso as portas do quintal), todas as vezes que abro a porta principal, faz corrente de ar. Então, ouvi o tilintar da caixa do correio, é certo que quando acontece, é o carteiro, por isso dirigi-me à porta principal para tirar a correspondência. Levei a chave do porta cartas e como fica mesmo pertinho, deixei a porta entreaberta, jamais imaginando que se iria fechar. E foi o que aconteceu, pois fez corrente de ar com as portas e janelas do quintal. 

E agora! Pensei eu. Não tinha a chave comigo. Ainda fiz uma tentativa de entrar pela janela, mas em vão, pois as percianas estavam para baixo. 

Por momentos, entrei em pânico, visto ter deixado uma panela no fogão, pois estava a preparar o almoço. O marido só chegaria dali a duas horas, uma vez que tinha saído. 

Foi aí que senti aquela sensação indescritível de ficar na rua, a pensar nos sem abrigo, ou naqueles que um dia tiveram uma casa e a perderam, como é o caso de tantas pessoas. 

São situações que nos marcam. Sendo eu sinistrada do sismo de 80, enquanto viver, sentirei a dor daqueles que não têm para onde ir, ou seja, não têm casa onde possam, por momentos, estar à vontade. 

É irritante, simultaneamente frustrante, a gente estar no lado de fora da nossa casa e não poder fazer nada. 

Acalmei e raciocinei. Foi então que olhando à minha volta, vi que o carro do vizinho estava estacionado no lado de fora da sua casa, por sorte, encontrava-se em casa àquela hora. 

Então, dirigi-me a casa dele e pedi-lhe que viesse com um escadote para saltar pelo quintal e abrir-me a porta. E assim foi. 

O vizinho com a maior facilidade, saltou o muro do quintal, bastante alto, atirou-se para o pátio e logo abriu a porta para eu entrar. Senti-me tão grata naquela altura. Uma sensação de satisfação por ter resolvido um problema que poderia ser grave, visto ter deixado o fogão aceso. 

A conclusão que tiro desta pequena história, é o quanto, por vezes, criticamos as pessoas sem norte, aquelas que não têm casa. É deveras angustiante, desolador, não ter um lar, uma família, alguém a quem nós possamos recorrer e repousar descansadamente, nem que seja por alguns instantes. 

Pensei na gente pobre, naqueles que não têm abrigo. E logo deu-me vontade de agradecer por tudo, pois embora não tenha tudo, tenho o essencial, tenho casa onde morar, tenho um lar, tenho uma família.

12-06-2019
Graziela Rocha Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário