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sábado, 15 de junho de 2019

Do jornalista Souto Gonçalves - ESTÓRIAS DO VULCÃO


ESTÓRIAS DO VULCÃO

Sempre tive curiosidade de saber coisas sobre o Vulcão dos Capelinhos.
Não sou contemporâneo da erupção, mas, ao domingo, principalmente no inverno, quando eu, meu pai, minha mãe e meu irmão dávamos a volta à ilha de carro, quase sempre íamos ao Vulcão.

Para meu pai e minha mãe era uma memória recente. Tinham-se casado no mês em que o Vulcão «rebentou», setembro de 1957.

Portanto, também «vivi» um pouco do Vulcão através de meus pais.

As recordações de minha mãe eram estórias que escutava com espanto, principalmente a descrição da noite de 12 para 13 de maio de 1958, passada na eira da casa do meu avô Souto (onde moro agora), com a coroa do Espírito Santo, orações, uma «morraça» (que entre nós significa aquela chuva miudinha quando o «tempo» está de sul), as pedras a rolar das paredes...

Meu avô -- outro dia fiquei a saber que lhe chamavam General De Gaulle, provavelmente devido à sua estatura -- passou a noite sentado no seu habitual divã, na cozinha, recusando-se a sair de casa.

Ontem fui ao Posto de Atendimento do Cidadão, em Castelo Branco. Assomei à porta. Meia dúzia de pessoas à espera. Como não tinha muito que fazer entrei e sentei-me. Não foi mal empregue o tempo que ali fiquei.

Logo a seguir entrou o Elias da Praia do Norte, pai do Estevao Gomes. Joguei voleibol com ele, ou melhor, contra ele e ficámos amigos. Só o vejo quando nos cruzamos de carrinha, ele com vacas no atrelado e eu com erva na caixa.

Aproveitámos para pôr a conversa em dia. A espera prolongou-se e a certa altura meti o Vulcão na cavaqueira e fiquei a saber coisas novas para mim.

A seguir à erupção era possível ir da praia da Fajã até à zona onde hoje está implantada a «lixeira» sobre areia expelida pelo Vulcão. Nas proximidades da «lixeira» havia antes um pesqueiro com cerca de 10 metros de altura e esse precipício ficou todo coberto pelo areal.

Entre o Vulcão e a Caldeira abriu-se uma fenda de enormes proporções. As pessoas deitavam pedras lá para dentro e só ouviam o impacto «muito ao longe». O Senhor Manuel «das Camionetas», quando veio da América construiu na Praia do Norte a sua casa sobre essa fenda e teve que colocar barras de ferro entre as duas margens para suportar a construção.

Os sismos eram fortemente sentidos na Praia do Norte, ao ponto de uma camioneta que se encontrava estacionada no caminho se ter atravessado com os impulsos que sofreu.

Esses sismos diminuam de intensidade logo após a Ribeira das Cabras, a leste da freguesia.

Aqui fica este registo, que resolvi partilhar pensando que haja quem goste de saber pormenores relacionados com o Vulcão dos Capelinhos.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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