JERÓNIMO E ANÍBAL OS "SUPER-HERÓIS"
A história que hoje aqui vou narrar ainda será, por certo, lembrada por alguns amigos e conhecidos, sobretudo aqueles que na altura moravam na Rua dos Canos Verdes e em São Pedro. Sei que alguns já não fazem parte do rol dos vivos, um deles Aníbal Alberto da Silva Borges que, mais tarde, seria um dos
maiores futebolistas dos Açores ao serviço do seu clube do coração, o Sport Club Angrense. Do outro encimado neste artigo, ao cabo os dois “super-heróis”, nada sei. É possível que também já não faça parte dos vivos. Oxalá que não, mas é apenas uma suposição pelo tempo e a nossa própria idade servindo de “medição”. O Jerónimo, que era mais gago do que o nosso outro bom amigo Pedro “gago” (que morava no Corpo Santo e era um indefectível sportista), veio do continente para a Rua dos Canos Verdes onde residiu durante muitos anos.
Há cinquenta e cinco anos atrás, sensivelmente, a nossa juventude, para além do futebol (esse sempre presente), e influenciada pelos chamados filmes de aventuras, nomeadamente aqueles protagonizados por espadachins, formava as “trupes”, utilizando espadas feitas de madeira e ainda arcos com setas da mesma parte lenhosa. Daí se criaram duas “trupes” de acesa rivalidade, ou seja, a Rua dos Canos Verdes aliada às ruas de Oliveira e Quatro Cantos e São Pedro (rua de cima, rua de baixo, rua do meio), lideradas, respectivamente, pelo Jerónimo e pelo Aníbal Borges, vulgarmente conhecido por Anita. Uma vez por outra , as “trupes” desafiavam-se, chegando inclusive a entrar nos seus respectivos redutos de defesa, isto é, as ruas onde moravam componentes das mesmas. Era um refúgio para não se apanhar uma sova. Bem vistas as coisas, dois líderes inteligentes e afoitos, assim reza a história de todo verídica.
Mas, o mais interessante de tudo isto é que, para o lado oriental da cidade, concretamente o Bairro do Corpo Santo, existia uma forte “trupe”, esta sem líder específico (todos por um e um por todos). Mas lá estavam o Airosa, os primos bananas, os serretas e tantos outros ali da zona do Cantagalo (os pauzinhos, os georginos, o furão, e por ao fora...). Acontece que nenhuma das outras duas “trupes” se atrevia a entrar no Corpo Santo para um duelo a sério. Primeiro, pela força da malta ligada ao Marítimo, segundo porque não era fácil passar da zona onde estava instalada a fábrica do peixe Virgílio Lory. E mais: se a malta do Corpo Santo necessitasse de um aliado, tinha a força dos madeirenses contratados anualmente para a faina da pesca do atum. Então, as disputas (normalmente sempre nas férias escolares do verão) eram praticamente entre Rua dos Canos Verdes e São Pedro, até porque era notória a recíproca rivalidade entre o Jerónimo e o Aníbal, os dois “super-heróis”. Acresce que também o Jerónimo era “bom de bola” e referenciava-se com o emblema do Lusitânia. Também por aí ficou mais acesa a dita rivalidade.
Francamente, hoje gostaria de estar à mesa de um café (escolheria para o efeito o Aliança) sentado com estes dois “super-heróis”, recordando esse tempo de aventuras, influenciadas pelos filmes que eram exibidos na Recreio dos Artistas, Teatro Angrense e Fanfarra Operária.
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