No ano de 1972-73 o técnico Elvino Coelho Bettencourt, uma das grandes referências do Lusitânia, quer como jogador quer como técnico, rumou para Alvalade para assistir a um período de treinos ministrados pelo inglês Ronnie Allen e que tinha como adjunto Mário Lino, sempre pronto a colaborar com as
gentes do emblema verde-branco de Angra do Heroísmo, clube que o catapultou para a alta roda do futebol nacional. Como se sabe, Lino veio do Fayal Sport para o Lusitânia e foi indicado ao Sporting pelo húngaro Janos Biri, que teve uma passagem pela ilha Terceira ao serviço do Lusitânia.
Nessa época de 72-73, o Lusitânia conheceu uma transfiguração pelo fato de ter reunido, entre os seus associados, um elenco diretivo muito equilibrado e então presidido por José Gabriel Fragoso, antigo atleta do clube na modalidade de hóquei em patins, cotando-se como um dos melhores guarda-redes da atualidade numa equipa que era formada por Basílio Sousa, irmãos Borges (José e Francisco), Isidro Espínola, José Gabriel (vulgo “Gadelha”, emigrado para a Califórnia), Liberal Lourenço (o eterno suplente de José Gabriel Fragoso).
Quando Elvino regressou de Lisboa, pós estágio (digamos assim) com Ronnie Allen, fomos fazer um trabalho de reportagem, à noite, ao Campo de Angra, entrevistando o técnico em questão, alguns jogadores e o presidente da direção. Ainda hoje me recordo de uma frase do José António Soares: “não aguento mais”. Tudo isto em tom de brincadeira. Depois deste puxadíssimo treino, o grupo de trabalho deslocou-se para a sede do clube onde lhes foi proporcionado um jantar no qual participamos a convite da direção, na pessoa do seu presidente e de um membro ligado ao futebol, o nosso conhecido Henrique Monteiro, hoje a residir nos Estados Unidos, creio eu.
No dia seguinte, na redação de A União, contava ao JD Macide todas essas peripécias desde o treino ao jantar, destacando aqui a dinâmica do presidente do clube, José Gabriel Fragoso. E foi por via desta conversa que idealizamos um epíteto para José Fragoso. Este: “o presidente sem gravata”. E foi assim que, durante os seus mandatos no Lusitânia (na época da subida à III Divisão, era ele presidente), passou por nós a ser conhecido, isto sem desprimor para alguns dos seus antecessores que, por motivos de ordem profissional, andavam de gravata todos os dias, presidentes esses que também desenvolveram no clube um trabalho a contento. Tudo teve a sua época. As do José Gabriel Fragoso, sempre bem acompanhado pelos elementos diretivos que escolheu, coincidiram com importantes mutações e daí os vários desideratos alcançados ao nível nacional.
Portanto, José Gabriel Fragoso, o “presidente sem gravata”, é uma das grandes figuras que, no seio dos lusitanistas, não pode ser esquecida. A figura de um presidente que, face ao seu dinamismo, levou o clube a um superior patamar, para a maioria dos lusitanistas de todo impensável. E por aqui se corroborou que no futebol não há impossíveis. O Lusitânia, comandado por José Gabriel Fragoso, desbravou o caminho e hoje os Açores fazem parte integrante do todo nacional ao nível do futebol sénior e dos escalões de formação.
Por tudo aquilo que aqui se relatou o “presidente sem gravata” também hoje é uma das pessoas que está sofrendo com a atual situação do clube. Nós sempre acreditamos em melhores dias, mas, depois de uma declaração que foi feita recentemente e divulgada nos dois jornais de Angra, o cepticismo anda “pra cá e pra lá”. Se o âmago dessa declaração produzir os efeitos desejados por quem a pronunciou, temos mesmo que acreditar que vem aí mais uma fase de arrepiar os cabelos.
Nota final – Não podia deixar de referir outro importante alcunha que recebeu, corolário do seu equilíbrio na administração do clube, sempre bem acompanhado por tesoureiros rigorosos na apresentação das contas, citando, nomeadamente, José Rosa da Silva e Fernando Alves. Então, temos o "TIO PATINHAS”.
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