SER EMIGRANTE!
Fiquei impressionada ao ler o seguinte, numa imagem onde havia
um avião.
Se você pudesse decolar agora, qual o sítio que escolhia?
Uma pergunta feita por uma pessoa emigrante. As respostas foram quase unânimes.
Para os Açores. E alguém dizia - Escolhia os Açores pelo seguinte motivo. A
pessoa quando emigra não tem a noção da beleza do paraíso que deixa para trás
onde no mesmo dia acontece as quatro estações do ano.
Mediante as respostas que li, verifiquei o quanto os emigrantes sentem saudades
da sua terra, aqueles que são honestos nas suas respostas. Também conheço
alguns, que por questões de orgulho e vaidade, são capazes de dizer que não
sentem saudades nenhumas da sua terra, quando no fundo é bem o contrário.
Por muito humilde que seja o lugar onde a gente nasceu, um dia a gente vai
sentir saudades desse lugar, pois por muito bem que estejamos, os lugares da
nossa infância são os mais marcantes na nossa vida. Podemos correr mundo,
gostar imenso de tudo, mas o nosso coração ficará eternamente no lugar onde
nascemos.
Esta é a minha opinião e da maioria das pessoas com quem eu contacto, não
generalizando, evidentemente.
Os emigrantes que dizem a verdade, contam sempre que nos primeiros meses e
anos, não vieram para trás porque não puderam, ou porque ao regressarem não
tinham condições de vida. Mas a vontade de regressar acompanhou quase todos. Só
que as circunstâncias não o permitiram. Depois vem o nascimento dos filhos, é
óbvio que ao frequentarem a Escola, os lugares da sociedade onde estão
inseridos, vão gostar de lá estar. Além de que não conhecem outro lugar. E pela
lógica, os pais obrigam-se a ficar onde os filhos nasceram. Os anos vão-se
passando, depois vêm os netos, e as razões começam a ser mais fortes para
permanecerem no sítio onde vive a família.
Recordo o meu tio Anacleto que emigrou para o Brasil com 27 anos. Lá casou com
uma terceirense, também ela de famílias das Doze Ribeiras. Depois nasceu a
filha, a única que tiveram. Naquela altura o meu tio veio cá ao fim de 25 anos.
Já o meu avô tinha falecido. A minha avó estava na casa dos setenta anos e com
alzheimer. Recordo-me o dia que ele chegou com a mulher e a filha com oito
anos. A minha avó não o reconheceu. Ao fim destes anos todos, ainda sinto a dor
que ele sofreu. Chorou compulsivamente durante largas horas. As saudades eram
tantas que viveu aquele tempo que cá esteve de uma forma entusiasmante, o
reviver de tudo que tinha deixado para trás. Depois pensou em cá ficar,
estabelecer-se, pois já tinha amealhado bastante dinheiro, uma vez que a sogra
tinha ficado viúva e tinha repartido a herança com os três filhos, neste caso
com a mulher do meu tio, tendo tocado a cada um, naquela altura, quinze mil
contos. O que era uma pequena fortuna. Assim, o meu tio criou muita riqueza no
Brasil. Era um dos comerciantes mais poderosos do Rio de Janeiro.
No entanto, achava que iria ao Brasil mais uns anos, e então viria de vez. A
ganância de conseguir mais e mais. Quando regressou a segunda vez, já a filha
tinha vinte e um anos, não gostou de cá estar para ficar. Contrariamente, aos
oito anos tinha adorado, uma vez que não tinha ladrão, como ela dizia. E assim,
faleceu o meu tio com noventa anos, no Brasil.
É desta forma que vivem os emigrantes, nesta dualidade de interesses. A terra
que lhes deu melhores condições de vida, onde por vezes, não lhes falta nada,
mas falta a felicidade de estarem na terra onde têm os seus corações, onde a
alegria e a vontade de viver são bem maiores.
Por ser descendente de emigrantes, nomeadamente bisavô, avó tios e primos, sei
muito bem o que aqueles que eu conheci, comentavam. Dizia a minha avó materna,
também ela emigrante desde os dezassete anos. Eu não a conheci, mas a minha mãe
contava - Sempre tive pão para comer, tinha abundância, não me faltava nada,
mas muitas lágrimas derramei.
Penso que esta analogia diz tudo!
06-06-2019
Graziela Veiga
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