ASPECTOS DA NOSSA TERRA (5) - OS BISCOITOS
Situada numa região essencialmente vulcânica, a freguesia dos Biscoitos tem a sua maior riqueza nas vinhas e nos pomares que os eus naturais souberam manter produtivos, dando um grande exemplo a muitos terceirenses que não hesitaram em abandonar aquilo em que tanto se haviam esmerado os seus antepassados.
Quando a maior parte dos proprietários das vinhas do Poro Martim e de outras regiões resolvia votá-las ao abandono, sob o pretexto de que eram improdutivas, houve um biscoitense, Francisco Maria, que tomou a iniciativa de salvar o pouco que ainda restava das antigas videiras, procurando melhorar e ampliar a produção vinícola das suas propriedades.
Graças à persistência e à boa vontade de Francisco Maria, a sua iniciativa vingou e, presentemente, o Vinho dos Biscoitos é considerado o melhor que produz a Ilha Terceira, e constituindo uma especialidade muito apreciada.
O Porto dos Biscoitos, embora voltado a Norte, é utilizado como porto de recurso quando os ventos do Sul não permitem que os navios efectuem o tráfego de passageiros na Baía de Angra ou na da Praia da Vitória.
Há um facto histórico passado no Porto dos Biscoitos que bem merece ser aqui relembrado, porquanto, mostra a coragem e a decisão das mulheres da freguesia. Quando se deu o segundo desembarque das forças espanholas, no ano de 1583, o Conde Manuel da Silva, Lugar-tenente de D. António, Prior do Crato, resolveu abandonar a luta, correndo o boato de que pretendia fugir da Ilha, utilizando para o efeito um dos barcos de pesca ancorados no Porto dos Biscoitos. Logo que as mulheres da freguesia tiveram conhecimento da notícia correram ao Porto dos Biscoitos e, utilizando pedras, arrombaram todos os barcos que ali encontraram, com o fim de impedirem a fuga do Conde, alegando que, tendo ele levado os seus maridos e filhos para a guerra, deveria sujeitar-se a idêntica sorte.
Estância de veraneio por excelência, a freguesia dos Biscoitos sempre foi um dos lugares mais preferidos especialmente pelos angrenses para gozarem as suas férias de Verão.
Ali se reuniam em tertúlia os valores mais altos das artes e das letras terceirenses. Conhecedores dos pontos mais característicos da freguesia, os veraneantes procuravam os locais que mais lhes convinham para conviverem em alegre cavaqueira.
Constituída na sua maioria por uma rocha de formação vulcânica, negra e de superfície áspera, a Baía dos Biscoitos oferece-nos um aspecto típico destas ilhas em que predominam, os solos pedregosos, queimados e negros, o que não é vulgar encontrar-se noutras terras.
Como se trata de uma estância de veraneio, a freguesia dos Biscoitos não podia deixar de possuir uma praia de banhos, sendo utilizada como uma «calheta» que fica mais abaixo do porto, na qual foi melhorada com cimento a rampa de acesso.
No intuito de proporcionar maior comodidade aos banhistas, foram construídas no local instalações apropriadas para vestiários, sanitárias e chuveiros, o que constitui um bom melhoramento.
Já que falamos neste assunto, seja-nos permitido lembrar a conveniência que há em fazer com que as instalações desta natureza se harmonizem com o panorama local, tornando-se assim mais agradáveis e atraentes. Às vezes, basta um pequeno pormenor para que a paisagem se modifique.
Lajes, Janeiro de 1963
L.M.D.

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