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quarta-feira, 17 de julho de 2019

O rei as baleias e eu


 REI, AS BALEIAS E EU

Tenho sempre uma forma “sui generis” de idealizar o que pretendo trazer à estampa, no Splish Splash, em A União e outros. Não é “segredo de estado”, mas, sinceramente, não gosto muito de revelar essa minha forma de actuar. Não tem nada de mágico. Longe disso.

Estava no You Tube à procura de canções conhecidas do Rei Roberto Carlos quando, a dado passo, deparo-me com a célebre canção das baleias. Que bonito! Que sugestivo! É verdade, as baleias. Lembro-me, para recuar no tempo, do filme português “Quando o mar galgou a terra”, tendo parte dessa película (do amor que aflorou entre um arpoador de baleias e uma mulher que trabalhava na terra) sido realizada na freguesia das Capelas, ilha de São Miguel, arquipélago dos Açores. O sinal de baleia perto era dado através de um foguete. Depois, era um corre-corre para os denominados botes baleeiros, seguindo-se a luta titânica entre os homens e o mamífero, situação por vezes assustadora quando a baleia erguia a cauda.

No meu tempo de criança, parava muito num sítio chamado Adro Santo, freguesia do Corpo Santo do Bairro Oriental da cidade de Angra do Heroísmo. Ali, vislumbrava a imensidão do mar, percorrida entre o Monte Brasil e a ponta final do Porto Martins, creio eu. Por ali também parava, naquele que era o seu quotidiano, o Tio Bernardo com os seus famigerados binóculos. Ele que também adorava ver mais de perto o que pelo além se movimentava naquela extensão de mar. Normalmente, pedia-lhe para usar os binóculos com o fito de ver passar alguma baleia daquelas que regularmente cruzavam o grande espaço do arquipélago dos Açores, maior incidência para os lados da ilha do Pico, onde reza a história de grandes baleeiros e onde ainda hoje também existe o “museu da baleia”-

Numa bela tarde, estava com o Tio Bernardo no Adro Santo e, de repente, esse velho senhor, de uma extrema cordialidade, solta um grito de surpresa: olha um mamífero a entrar na baía! Ainda questionei: uma baleia? O Tio Bernardo ficou indeciso para a resposta, mas, de imediato, passou informação para Augusto Ávila que, reunindo a sua tripulação (quase todos paravam no mesmo café), conseguiu trazer o mamífero até ao Porto das Pipas. Foram muitos os braços puxando a corda que amarrava aquele enorme bicho, de toneladas de peso e com 7,32 metros de comprimento. Não se tratava de uma baleia, mas sim de um albafar que deu à costa por se encontrar ferido. Escusado será dizer que, durante alguns dias, até ao momento em que foi derretido para fazer azeite, o albafar foi visto por centenas de pessoas da ilha.

E termino este artigo (matéria para os brasileiros), ouvindo mais uma vez Roberto Carlos cantando “As Baleias” (1981). Neste vídeo, o King, mais jovem, cruzando o mar como um autêntico marinheiro, de cara exposta aos ventos. A voz dos ventos, fazendo eco de uma canção que fala muito mais de amor.

Nota final - Não foi preciso usar binóculos para alinhavar este artigo. A inspiração, essa, veio da voz de Roberto Carlos.

Sempre detestei quando, em toda e qualquer circunstância, se fala em impossíveis. Tal como o futebol, gosto que se aplique a máxima... “negação do impossível”. Quer isto dizer que há que utilizar todos os meios possíveis para se atingir um objectivo. Mas, por outro lado, naquilo que denomino por reverso da moeda, entendo que há sempre algo que roça o impossível, obviamente ao confrontar com argumentos plausíveis.

Ora, nestes contactos que mantenho pela net, através do facebook (o mais utilizado no actual momento), alguns amigos, emigrados para a América do Norte, sabendo que tenho acompanhado de perto a actividade do king Roberto Carlos, ora através do seu Site Oficial, ora do Splish Splash Blog e do Portal Clube do Rei Roberto Carlos, me têm questionado sobre a possibilidade do king encetar uma digressão aos Açores. Na verdade, seria interessante os Açores receberem o Rei Roberto Carlos, mas aqui volto a deparar com a dita circunstância do... “roçar o impossível”. E porquê? Tudo tem a ver com a própria estrutura que envolve o king, visto que, como é sabido, à sua volta reúne-se um numeroso grupo de músicos que são dirigidos pelo maestro Eduardo Lages, o outro lado de Roberto Carlos. Depois, toda a instrumentação, o que significa um enorme peso em termos financeiros, para mais para uma região que, dentro da escala européia, também enfrenta os efeitos da crise. E mais: não creio, de forma alguma, que o king se deslocasse à região para ser acompanhado por músicos locais, que têm o seu valor, mas não é a mesma coisa. São muitos anos ao lado de Eduardo Lages e seus músicos de confiança. Um cantor com a cátedra de Roberto Carlos não pode, de forma alguma, estar sujeito a um insucesso em função de um acompanhamento musical menos bom. Não direi de fungágá, porquanto este termo é demasiado pesado e há que ter consideração pelos músicos locais, muitos deles sem o estatuto de profissionais. Que fique bem claro que, nesta minha opinião, não existe depreciativo em relação aos mesmos.

Mas, mesmo assim, sabendo do elevado grau de dificuldades para uma deslocação do king à região açoriana, com uma conjugação de esforços entre o governo e as autarquias, essa possibilidade, em certa medida, seria viável, desde que existisse o aval da empresa Roberto Carlos. Porém, aqui temos outro problema, alheio à própria empresa, mas que é do foro interno. Se o governo colabora, onde se realizará o espectáculo? Terceira ou São Miguel? Aqui, visto por esse prisma de eu quero, eu quero, é que a porca-torce-o-rabo. O melhor é que, de um lado e do outro, esquecendo rivalidades, se unissem para que a ideia passasse do sonho à realidade. Só assim é que serão debeladas as muitas dificuldades no aspecto de índole financeiro. Hoje em dia, pelo seu carisma, pela sua brilhante carreira, Roberto Carlos não se sujeita a partir para uma digressão sem o seu importante “outro lado”, isto é, a companhia de Eduardo Lages e seus músicos. E há que entender que king é king. Que seria interessante o king actuar nos Açores, disso não tenho a menor dúvida. Mas até lá há um longo caminho a percorrer para que consigam chegar a essa almejada realidade.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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