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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Quando o Prosa se transformou em enigmático


Quando o Prosa se transformou em enigmático 

Em 1968 o Fayal Sport Club, decano açoriano, organizou, em várias modalidades desportivas, e ao nível de seleções dos três então distritos, os Jogos Desportivos Açorianos, altura essa em que não havia apoios para nada em termos governamentais. Nem os governadores civis nem os presidentes de
câmara se preocupavam que o desporto era uma escola de virtudes e uma forma de reunir atletas da Terceira, São Miguel e Faial. Hoje, claro, dentro da política que é seguida, as outras ilhas também surgem no panorama desportivo açoriano com agradáveis presenças, quer coletivas quer individuais. 

Tinha apenas 15 anos de idade quando, sobre o evento referido (JDA), acompanhei a seleção de atletismo da Terceira, que foi preparada, no velho Campo de Jogos da Cidade (ainda meio ervado, meio de terra) pelo nosso saudoso amigo, professor Nuno Monteiro Paes. Uma seleção que foi comandada pelo José Braz Veríssimo e que tinha no lançamento do peso o José Lopes e como massagista o Jorge “Bacalhau”. Uma seleção onde se depositavam muitas esperanças em Dionísio Capaz (comprovou a sua capacidade de velocista ao vencer duas provas, as únicas que se conquistou), o João Couto no salto em altura (não passou de 1,25 e passou a ser lá conhecido pelo 1,25) e o Prosa que, dois dias antes de embarcar, havia saído da prisão, mas aqui, graças a Deus, não houve qualquer espécie de discriminação e o Prosa foi bem aceite no seio desta improvisada seleção. Contudo, aconteceu algo de interessante e de certo modo enigmático. Comíamos no Amor da Pátria (a sociedade dos “finesses” da Horta), num restaurante chiquérrimo, deste os talheres, os pratos, os copos, tudo era de uma impressionante qualidade. E a sobremesa comia-se de garfo e faca, o que não era muito usual na casa da maioria. Até o Luís Reginaldo (emigrado para os Estados Unidos), que andava sempre de fato treino preto, glosava com esta situação. Contudo, com maior ou menor dificuldade, lá se ia comendo a fruta com garfo e faca, ainda por cima de uma bonita prata, mas, o mais impressionante de tudo isto é que, de todos, o Prosa era o primeiro a ficar sem fruta no prato. A malta se interrogava como podia ser aquela celeridade a comer fruta, ainda por cima de garfo e faca (naquela altura era com a mãozinha, algumas até não muito bem lavadas, mas ninguém morria por isso). Ao segundo dia de permanência, à hora do jantar, descobriu-se então que o Prosa colocava a fruta num dos bolsos das calças e comia fora do Amor da Pátria sem que, no início, se descobrisse essa artimanha, que acabou por ser compreensível, porque, para o Prosa, comer fruta de garfo e faca, não era tarefa fácil. Há que dizer, para sermos mais precisos, que outros também revelaram algumas dificuldades, mas sempre conseguiam chegar ao fim com as cascas da fruta no prato. E não mentirei se disser que fui um dos que cheguei a comer fruta com casca, sobretudo quando se tratava de pêssego. 

Uma coisa é certa: só conseguimos duas vitórias (ambas pelo Dionísio Capaz), mas a comer ninguém nos vencia. Ainda por cima com a qualidade que nos presenteou 

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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