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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Da poetisa-escritora Manoella Calheiros - Folhas caídas


 Folhas caídas

O tempo deixou de ser tempo,
Foi dor e sofrimento,
O verão, caminhava veloz de encontro ao outono,
As folhas tingiram - se de cores,
Enxofre e ocre,
Malva e alecrim,
O sol dormia cada dia mais cedo,
E a noite, a noite cresceu,
Acordou aquele dia aos gritos, desassossegada,
Cheirando a dor e a dúvidas,
Aquela maldita chamada voou as folhas,
Estragou as aguarelas, do requintado pintor do amor,
Matou a ferro frio aquele romance tão lindo,
Secou os rios que acariciavam sonhos,
Partiu, partiu como um tsunami, altivo e orgulhoso da sua força,
Desbotou a alma que morreu um pouco, muito,
Enferrujou o trinco da porta, fechada tantos anos,
Meu Deus!
O inferno existia, a dor ardia,
A dor não dormia nem comia,
A burra, a burra da ilusão não assimilava este vendaval,
Que triste foi aquele fim de verão,
Aquele desprezo que mutilava,
O silêncio que mordia até sangrar,
Aquele outono de mil cores, que fotografei negro,
Foi primavera e tropecei outra vez, sou incorrigível,
Nego - me a sobreviver,
Virá o outono, o inverno,
Chegará a primavera e o verão,
Haverá vendavais e tempestades,
Não posso saber se algum dia poderei,
Restaurar as belas aguarelas que as lágrimas estragaram,
O pintor ainda existe,
Bordou a tinta da China um quadro que foi amor.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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