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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Da escritora Graziela Veiga - BEM VINDOS AO MUNDO ENCANTADO DAS REDES SOCIAIS


BEM VINDOS AO MUNDO ENCANTADO DAS REDES SOCIAIS

É tão bom ter amigos! E então no Facebook, nem se fala. Nós conversamos, trocamos ideias, recordamos situações, sempre com boa disposição, solidificando a amizade. No entanto, vemo-nos na rua, por vezes, nem nos conhecemos, ou fazemo-nos passar despercebidos, pois não vá alguém influente passar naquela hora e ficaria muito mal na "fotografia" eu ser amiga de fulano, sicrano ou beltrano.
Sim, porque eu sou uma pessoa conhecida, tenho vários amigos influentes, ricos, poderosos, famosos e, não é de bom tom ser-se amigo de um pelintra, um pé rapado que, até é uma pessoa honesta, tão honesta e trabalhadora que nunca passou da cepa torta, porque o trabalho nunca enriqueceu ninguém.
E os casais? Outra maravilha! São tão amigos, unidos que, nem pensam em traição. Falam-se através das redes sociais, pois na vida real, por vezes, nem trocam olhares, quanto mais falas. Não admira, com tanto que há para fazer, não há tempo. Na rua andam de mãos dadas, de braços entrelaçados, de vez em quando, sempre dá um ar de felicidade, já que em casa está tudo acabado. Mas isto, no que toca ao comportamento em casa, com os respectivos cônjuges, porque para os outros, arranja-se sempre um tempinho. Procura-se um lugar da casa mais discreto, aquele que passa despercebido ao outro, não vá o Diabo tecê-las. É que todo o cuidado é pouco. E convém dizer-se que se está a falar com um amigo que não se vê há longa data, apesar de se encontrarem quase todos os dias no trabalho.
E como não poderia deixar de ser, no Facebook é que é bom. É tão romântico ver tudo cheio de coraçãozinhos que, até dói, digo, enternece. Tanto amor, tanto bem querer, tanta amizade e sinceridade, autêntico conto de fadas, daqueles em que as bruxas más não existem, nem têm qualquer influência. Agora cá, elas nada podem contra o poder do verdadeiro amor.
Eu até sinto inveja! Não porque a minha vida seja das piores, mas porque afinal, a maioria das pessoas não têm problemas. Nota-se pelas fotografias. Estão todos risonhos, alguns, até são da minha idade, mas estão sem rugas, ou qualquer expressão facial manifesta que alguém lhes dê a idade que têm. Exibem corpos de ginásio que mais parecem adolescentes, ao longo, porque ao pé, por vezes, é de fugir. Quando estão de costas voltadas parecem bibliotecas, mas quando se viram são autênticos museus. Até sinto receio de passar por estas pessoas na rua. Tenho impressão que não as vou reconhecer, isto, se me basear no perfil do Facebook ou outras redes sociais.
E quanto aos pais. Que maravilha esta relação com os velhinhos. Tratam-nos tão bem, especialmente no dia dos anos, pois sempre fica mais bonito e interessante, os outros saberem que lá em casa os anos dos pais são festejados. E esse dia, até se tira fotos, todos sorridentes, ao menos um dia, pois os outros sabe-se lá o que acontece...só eles poderão responder a essa pergunta.
Estive a brincar, evidentemente. Brinquei com coisas sérias, pensando alertar algumas pessoas para este mundo de hipocrisia onde estamos mergulhados. Claro que no meio disto tudo, há excepções, e pessoas que são tal e qual o que são na realidade. Essas pessoas são autênticas e nada têm a esconder, a não ser viver a sua vida privada em privado. A esses, faço uma vénia!

23-10-2019
Graziela Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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