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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Da poetisa-escritora Maria Azevedo - A vida é uma trama enrolada….


A vida é uma trama enrolada….
Os dias sucedem-se como palavras atadas umas nas outras….
As gentes passam...
Os sóis nascem e morrem em horizontes, molhados, ou no fim dos montes…
Os rios correm entre margens, estreitas, ou largas….
São lentos e suaves… ou ondulados e bravios… as nuvens choram neles, e descem até ás correntes dos mares…. que se passeiam pelas praias, ou se desfazem nas rochas escarpadas das ilhas….
Ou na areia suave das praias… onde se apanham conchas… ou se espreitam barcos… ou se espera a lancha do ultimo pescador… ou se escrevem palavras na areia que a água de sal leva… e apaga sem maldade…. o que o sentir desenhou….
Há letras em papéis, engolidos em frascos, que percorrem ondas e correntes… esperando que um par de mãos os encontre… ou não…
Talvez sejam só desabafos marinhos….
A vida é uma teia perfeita e eu a aranha no meio, laboriosamente concentrada e de vez em quando perdida…
Não procuro alimento que me sustente, mas a explicação da vida….
E a vida brinca comigo… porque desde cedo as palavras me mostraram o seu fascínio… mas não me ensinaram como enfrentá-las… contorná-las… ou perceber então, para meu sossego, que palavras são só letrinhas unidas…
Para quê complicar a vida… no seu lento ou rápido ou perfeito “vai e vem”….
Que é um dia?
Que são dias?
Que são dias num dia?
Que é um dia em dias?
Que estranha coisa que me invade e me faz sentir estrangeira.
Assim como de repente “aparecida”?
E a vida caminha… em seus passos por vezes lentos, por vezes rápidos… Deixando em mim palavras ao desbarato….
E a pessoa que sou tende a encontrar-se em concha….
Que a vida impera-se e não se detém, para quem é, assim inquieta….
Nasci em dias de asas e ventos….
Com maus tempos.
E soltaram-me, então … para que fosse sabendo de mim….
De mim… pelos, búzios, pelos musgos, pelas conchas rendilhadas, roladas de areia e mar….
Ah! menina, quem te mandou nascer em dia de temporal?
E a minha fadiga, apertada em nó atento… circulando em mim ao longo do tempo….
E foi tão longe que me deixaram… que não me vi…
E fiquei perdida, naquele medo de me perder….
E vou procurando na vida… algum pedaço de terra, ou mar… por onde crescer!!!!

Maria Azevedo

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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