D E T O I R O S
FOI HÁ 170 ANOS A PRIMEIRA TOURADA NO PICO DA SERRETA
A devoção a nossa Senhora dos Milagres, padroeira da freguesia da Serreta e as festas em sua honra, em setembro de cada ano, está na alma e fé dos serretenses em particular e dos terceirenses em geral, levando à freguesia milhares de pessoas, na sua maioria em peregrinação a pé no cumprimento de promessas, como prática única na Ilha.
Na variedade também das festas profanas há que realçar que foi há precisamente 170 anos que se realizou a primeira tourada na praça do Pico da Serreta e daí até aos dias de hoje sem qualquer interrupção, sempre com a presença de milhares de pessoas (é ver a foto antiga anexa), ou não fosse até concedido, mais tarde, tolerância de ponto pelo Governo Regional.
U M L I V R O S O B R E A S E R R E T A
Mas para além das seculares festas da bonita freguesia da Serreta, uma das suas filhas – a ferrenha serretense Rosa Silva, com o pseudónimo de “Azoriana”, poetisa e improvisadora, lançou, em março de 2011, um livro da sua autoria e com o título “Serreta na intimidade”, em que descreve, também em verso (quadras e sextilhas) todo o universo histórico, passando revista a todos os acontecimentos marcantes, evocando lugares, cantorias, homenageia pessoas e instituições, evoca familiares e amigos etc.
Antes de terminar, não podíamos deixar de fazer algumas perguntas à nossa conterrânea, nascida na Serreta, Rosa Maria Correia da Silva, mais conhecida por Rosa Silva “Azoriana” :
QUE NOS DIZ SOBRE A FAMOSA TOURADA DA 2ª FEIRA DA SERRETA DE GRANDES TRADIÇÕES ?
Foi no ano de 1849, faz precisamente este mês de setembro 170 anos que se realizou a primeira tourada e até hoje sem interrupção. A tradição e fama é tal que é a única tourada que dá tolerância de ponto.
A filarmónica local teve desde sempre um lugar de destaque no Pico da Serreta, para animar a grande afluência de público.
SABE COMO PROCEDIAM QUANDO OS TOIROS VINHAM A PÉ DO E PARA O MATO ?
Depois da longa e penosa viagem a pé desde o mato para a freguesia, os toiros acompanhados de vacas de chocalho, sob o controle dos pastores e o precioso auxílio de cães “barbados da terceira”, ficavam nuns currais e algumas vezes guindavam, para susto de muita gente.
COMO VÊ ESTE DIA DA CÉLEBRE TOURADA DA 2ª FEIRA DA SERRETA ?
Na minha mocidade via a tourada bem do alto do Pico e levava macãs do pomar do meu pai para merenda atraente, pois eram lindas e saborosas de verdade. O meu pai, nascido na ilha do Pico, com receio “escondido” tinha de procurar o mais alto ponto de vista, não fosse o toiro pregar alguma partida.
Era e é a tourada mais colorida de verdes e flores humanas que conheço e já me inspirou alguns escritos que estão espalhados no blogue e rede social.
Em tempos ídos as pessoas iam a pé, de carros de bois e os mais abastados em charabãs ou lindas e valiosas carroças, uma vez que não havia automóveis. Hoje,talvez devido à grande abundância deste moderno e confortável meio de transporte e por falta de estacionamentos suficientes à volta da praça, uma boa parte dos milhares de pessoas dividem-se pelo Pico e pela agradável mata da Serreta, o que infelizmente retira muita gente do Pico, em relação ao passado longínquo .
Quando acaba a 2ª feira da Serreta, fico com um misto de alegria e saudade. É como que o fim da 1ª parte da festa que chama à Serreta milhares de forasteiros.
A Serreta a todos chama
Para divino e profano
Sobretudo a quem ama
A festa de ano-a-ano amo
Venha o senhor e a dama
Ao local tão soberano
O QUE REPRESENTA AQUELA CANASTRA QUE ANTIGAMENTE FAZIA DESAFIAR O TOIRO ?
A “Azoriana” respondeu com duas quadras :
A canastra era atracção
Que fazia o povo rir
O toiro dava empurrão
Fazia cesto cair
O homem nada sofria
Por estar bem agarrado
E no fim quando saia
Parecia embriagado
NO MEIO DE TODA ESTA GRANDE FESTA DO POVO E PARA O POVO, INFELIZMENTE HOUVE, EM 1958, UM GRAVE ACIDENTE MORTAL. COMO EXPLICA ?
Existe actualmente um memorial da morte da Sra. Celeste, ocorrida por uma pedra que rolou e lhe caiu em cima. Ela era casada com um cidadão (cujo nome não me lembro) que exercia a profissão de engraxador na Praça Velha.
Há um livro lançado há cerca de 5 anos, da autoria de investigador e escritor Liduino Borba, sobre este fatídico acontecimento de má memória.
E a poetisa/improvisadora Rosa Silva “Azoriana” termina esta entrevista, afirmando com muito orgulho : “Sou natural da minha linda Serreta e vivo em S. Carlos, com o coração colado ao “pulmão” da ilha Terceira”.
José Henrique Pimpão
03 de Setembro de 2019
Sem comentários:
Enviar um comentário