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terça-feira, 1 de outubro de 2019

Pezinho em casa do meu amigo Luís Bretão



Por João Rocha em Revista-No

“Um amante da cultura popular”. É esta a autodefinição de Luís Carlos de Noronha Bretão, nascido na freguesia da Sé, Angra do Heroísmo, a 31 de maio de 1945.

Luís Bretão, comendador e portador de um pavilhão multiusos com o seu nome, dispensa formalismos e sente-se como peixe na água comprometido “com a sua terra e com as suas gentes”.

Ontem, no tradicional “quinta-feira do Pezinho”, integrada no programa das festas do Império do Lugar de São Carlos, em Angra do Heroísmo, Luís Bretão abriu, pelo 20º ano consecutivo, as portas da casa de família para prestar a cantadores, tocadores que atuam nas festas tradicionais.

“Quem passa por São Carlos, em dia do tradicional pezinho, sabe que tem uma porta aberta para receber gente de bem, Luís Bretão, e a sua esposa, D. Luísa de Ávila Bretão, a acolher, com simpatia, gentes “de cá e de lá”, da casa ou de fora, que se congregam num encontro prolongado (porque o tempo se inibe de incomodar e de apressar os convivas), dedicado à confraternização e ao que de melhor se produz nesta terra: a cultura de um povo”, na síntese de uma tradição feita de fraternidade.

O Império da Irmandade do Divino Espírito Santo de São Carlos, da freguesia de São Pedro, concelho de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, está localizado no Largo de São Carlos e foi edificado no século XIX, estando datado com o ano de 1814.

Trata-se de uma Irmandade bicentenária que celebra a sua festa em honra do Divino Espírito Santo em Setembro fazendo coincidir a Coroação no último fim-de-semana de setembro, como foi prometido pelo povo do lugar de São Carlos.

Esta irmandade constituiu-se, segundo alguns relatos históricos, em resultado de uma crise vulcânica de grandes proporções ocorrida no interior da Terceira no ano de 1761, tendo-se prolongado por vários meses, ameaçando as gentes residentes em várias freguesias da ilha, como também o lugar de São Carlos.

Segundo relatos das gentes locais, o povo invocou a proteção do Divino Espírito Santo e o perigo passou. Esta ocorrência foi vista como um milagre, por isso foi assinalada com a fundação de uma irmandade do Divino Espírito Santo e a realização da festa do império até aos dias de hoje.

A festa da irmandade, que é uma das mais antigas da ilha, prolonga-se nos tempos mais recentes, por um período de 8 dias. No programa de atividades inclui uma vertente de cariz religioso e outra de natureza lúdica e cultural.

A riqueza das celebrações e as inúmeras atividades a desenvolvidas dependem da disponibilidade financeira e, acima de tudo, da enorme devoção, esforço e da envolvência da população com a Irmandade do Divino Espírito Santo de São Carlos.

A festa do Império de São Carlos inicia-se com a mudança da coroa da residência do Procurador para o império no domingo que antecede o da Coroação. Durante toda a semana, ao fim do dia, é rezado o terço.

À noite, após a abertura da iluminação, realizam-se diversas atividades de natureza cultural, nomeadamente o pezinho, a ceia dos criadores, a cantoria ao desafio, noite de fado, que costumam reunir em São Carlos gente de toda a ilha.

As atuações de diversos conjuntos musicais e de artistas regionais ou nacionais, bem como concertos de filarmónicas são também referências habituais nos programas das festas. Na sexta-feira, procede-se à distribuição das ofertas de carne, acompanhadas pelo pão, por todos os irmãos residentes em São Carlos, bem como por aqueles que residem noutras freguesias. Similarmente, não são esquecidos os criadores que ao longo do ano cuidaram do gado da irmandade.

No sábado, tem início as irmandades e distribuição das esmolas. Nos programas das festividades é hábito incluir também atividades dirigidas às crianças. Estas festas são conhecidas e afamadas pelo tradicional sábado de São Carlos, onde nas diversas tascas é possível degustar a tradicional morcela.

No domingo, no período da manhã, tem lugar a concentração de crianças e adultos junto ao império, seguindo-se a saída do cortejo do Espírito Santo, acompanhado por uma filarmónica, para a Igreja de São Carlos, onde é celebrada a missa festiva da Coroação. Neste mesmo dia, é feita a nomeação do novo Procurador, são sorteados os pelouros para o ano seguinte e, por fim, prossegue-se com a distribuição de alfenim pelas residências em São Carlos. À noite, depois de acesa a iluminação é costume encerrar-se este dia com diversas manifestações culturais.

As festas de São Carlos terminam na segunda-feira com a realização do bodo de leite, distribuição de alfenim e com a tradicional tourada de São Carlos, que reúne nas moradias da nossa localidade, conhecidas por serem de “porta aberta”, centenas de aficionados de toda a ilha Terceira.

Concluídas as festividades é apresentado o relatório e contas em Assembleia Geral da Irmandade.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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