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terça-feira, 17 de março de 2020

Da escritora Graziela Veiga - Feliz aniversário, pai


Há noventa e quatro anos, no dia 17 de Março de 1926, na freguesia das Doze Ribeiras, nasceu o Noé, terceiro filho dos quatro filhos que os meus avós tiveram, e que, mais tarde, havia de ser o meu pai.
Bem sei que não estamos em ocasião de festa, pois o período que atravessamos é complexo, ainda mais, pelo facto do meu pai ter perdido há relativamente pouco tempo, mais um filho. Já é o segundo filho que falece e ainda, um genro, muito novos.
Há dias, o meu pai chorava a morte dos seus filhos e genro e, dizia-me - eu é que havia de ter morrido, já sou muito velho e eles eram novos, ainda tinham muito para viver. Respondi-lhe que, ninguém vive no lugar dos outros. Todos temos o nosso espaço e só vamos partir, quando chegar a nossa hora. E a Inês acrescentou - eu não quero que o avô morra! Pois, apesar da muita idade, eu também não quero que o meu pai morra. Como já lhe disse - o pai não está às costas de ninguém, por isso, não se sinta constrangido pelo facto de viver.
Apesar da idade avançada, tenho orgulho neste velhinho que é meu pai. É um exemplo para muitos que desistem da vida, justificando não ter razões para continuar...porém, o meu pai, mesmo que não tenha razões aparentes para continuar, uma vez que, já perdeu a mulher, os filhos, o genro, ainda deseja viver. Dizia-me ele, aqui há dias - eu tenho tanta vontade de viver como tu!
Esta vontade vem de dentro, da sua convicção religiosa, da fé que tem em Deus. Por vezes, demonstra esquecimento, mas outras vezes, lembra-se de pessoas que já faleceram há anos e fala-me sobre elas. Fala-me da nossa família, dos nossos antepassados, e ainda se lembra de muitas coisas que já passou, boas e más.
Enquanto estive em casa, solteira, passei bons momentos com o meu pai. Tinha sentido de humor, boa disposição, bom pai, além de ser um grande homem de trabalho, nomeadamente na lavoura. Tinha um fascínio pela terra, profissão que exerceu toda a vida, desde os seus catorze anos. E esse gosto, fez com que se mudasse para casa dos avós maternos, onde vivam um tio e duas tias, solteiros. O padrinho Joaquim, como ele chama, foi o responsável de lhe incutir o gosto pelo trabalho no campo, trabalho esse que, o meu pai, exercia com muita perfeição, pois gostava de ver os serrados limpos, com as paredes levantadas do chão, sem monda e semeados à sua maneira. Foi uma vida de muito trabalho, pois criar seis filhos, naquela altura, não foi nada fácil.
De momentos de lazer, ressalvo dois, o gosto pelo jogo das cartas e as touradas. Actualmente, já não exerce nenhum, pois as pernas não permitem que ande muito e, além disso, já viu partir os seus amigos, aqueles que o levavam às touradas, e, também aqueles que jogavam às cartas com ele.
Devo dizer que o meu pai nasceu naquele local, freguesia das Doze Ribeiras, ali casou e vive até hoje. Casou com a rapariga mais linda da Serreta, diz ele, e digo eu que, sou filha. Além de outras pessoas que conheceram a minha mãe, corroboram o dito.
De resto, havia muito para contar sobre o meu pai, mas fico-me por aqui. Tenho a dizer que dentro do seu espírito, foi um homem feliz, nunca se queixou muito da vida, a não ser a perda da mulher, dos filhos e genro, além dos pais e irmãos, pois é o único sobrevivente. Sempre foi um homem de ter amigos, pelo modo simples e pela simpatia que irradia.
Desejo Muitos Parabéns ao meu pai! Que este dia seja um dia normal, sem muitos alaridos, pois a idade e a situação não o permitem.

17-03-2020
Graziela Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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