485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 15 de março de 2020

Da escritora Graziela Veiga - Tudo em prol da vida


Afinal, as pessoas querem viver a todo o custo. Qual eutanásia, qual quê! 
Neste momento de grande angústia para todos nós, em que o Covid-19 veio pôr em risco a nossa vida, o que mais queremos a todo o custo, é viver...
De repente, não ouço ninguém a dizer que não se importa de morrer, que dá o lugar aos outros que queiram viver. Isto vem a provar que, afinal, as pessoas querem acabar com o sofrimento, os problemas, mas nunca com a própria vida. 
Num Mundo, por vezes, injusto, onde há dinheiro para tudo ou quase tudo, quando há força de vontade, juntamo-nos e enfrentamos a tempestade, de forma a combatê-la para que todos sobrevivam. Por que nunca fizemos o que estamos a fazer, em prol daqueles que passam fome? É um dos males do nosso tempo, o egoísmo feroz em que vivemos mergulhados. Só nos debruçamos sobre estes assuntos, quando nos toca a nós, quando somos vítimas, quando a nossa família está em risco de vida, quando nos dói cá dentro. 
Depois de tanto se dizer e de tanto ouvir, cheguei à seguinte conclusão. Andávamos um bocado afastados por causa dos telemóveis, o que a maioria das pessoas contestava, mas ao mesmo tempo, alinhava. Se calhar, a única forma encontrada para nos suportarmos uns aos outros, pois ficamos saturados de tanta coisa, sobretudo das pessoas. É que nem sempre é fácil lidar com os problemas da vida e ainda, ter que sofrer pessoas conflituosas que, por tudo e por nada, fazem um alarido, ou ainda, a incompreensão, o mais difícil. 
Neste momento, as famílias estão mais próximas, mas devido ao problema vigente, para algumas famílias, veio agravar-se a situação, visto terem de trabalhar, por vezes, em profissões de risco. Restavam os avós, o pilar fundamental para muitas famílias. Nesta ocasião, seria a mais viável alternativa, mas infelizmente, por questões de contágio, recomenda-se que os netos não devem conviver com os avós, para a segurança destes. 
Lembrei-me do tempo da Quaresma, como católica praticante. Neste tempo da Quaresma, a Igreja pede-nos alguns sacrifícios, nada que não possamos cumprir. No entanto, a maioria das pessoas, acha um exagero e quase ninguém cumpre. E de repente, por motivo de força maior, estamos obrigados a suportar o que nunca pensávamos. É-nos imposta uma "penitência" que vai para além das nossas forças, que nos custa imenso a suportar, pois estamos praticamente privados da nossa liberdade, confinados apenas, ao nosso espaço, ao nosso mundo. 
No entanto, ainda há diferenças. Cada qual vive no seu mundo, mas há mundos melhores e mais completos do que outros. Há lacunas que não poderão ser colmatadas, pois há lares onde falta quase tudo, até a própria família. Há crianças privadas de tanta coisa, e agora, mais esta. Há velhinhos que já viviam isolados, no entanto, neste momento, ainda mais isolados estão. 
Só peço e espero que, todos os esforços sejam compensadores e bem direccionados para que possamos superar esta pandemia.
"Juntos, somos mais fortes
Seremos o céu que abraça o mundo
Juntos, seremos a voz que acende o amor... o amor" 
(Amor Electro) 
15-03-2020
Graziela Veiga

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário