JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 24 de março de 2020

De António Bulcão - Políticos coronavirados do juízo



Políticos coronavirados do juízo

Jair Bolsonaro não sabe o que é um vírus.
Nomeadamente não faz a mínima ideia de que o coronavírus é muito mais eficaz do que 10 centímetros de aço.
Só esta ignorância primária o pode levar a dizer que “depois da facada, não será uma gripezinha que me vai derrubar”.
Mas Bolsonaro podia manter-se analfabeto e ouvir notícias. Nomeadamente para saber quantos compatriotas seus já morreram com o que chama “gripezinha”, sem terem levado facada alguma.
Em vez disso, prefere chamar “lunático” ao governador de São Paulo´, por o mesmo ordenar quarentena no seu estado.
Donald Trump desvalorizou também esta pandemia. Que ia acabar em abril, disse.
Mas este é mais perigoso. Tentou comprar os direitos de uma potencial vacina a uma empresa alemã. Que negou. Não podia tal empresa privilegiar os EUA em relação a toda a Humanidade.
Trump chama incompetente a um jornalista que lhe pede simplesmente para se dirigir aos americanos que estão com medo. O que podem esperar de quem os governa? Só por perguntar coisa tão simples, o jornalista é insultado, humilhado, por um Presidente que devia aproveitar a pergunta para esclarecer e sossegar o Povo que espera dele medidas, informação, conselhos.
Por cá, António Costa negou a pretensão do Governo Regional para que não houvesse mais voos para as ilhas. Com o argumento de que não se pode limitar a deslocação de pessoas no território nacional.
Só que foi mais longe, aconselhando os continentais a não viajarem para os Açores, pois poderiam ficar aqui fechados, mercê da quarentena decretada regionalmente.
E foi neste conselho que proferiu uma declaração indesculpável, tipo “não vão para os Açores porque ficarão em quarentena e depois não poderemos tirar-vos de lá”.
Nesta expressão assassina de Costa, já não interessa a ausência de limitação da mobilidade, o perigo é de virem e depois não poderem sair. Ficarem fechados, presos, em calhaus historicamente trajados para degredos. Não vos poderemos tirar de lá. Como se fôssemos um País estrangeiro, com cidadãos lusos impossíveis de resgatar.
Por outras palavras, o que o 1º ministro disse aos continentais foi “vão lá quando tudo estiver bem, quando não correrem perigo de ficarem sequestrados pelos selvagens regionais. Aproveitem as belezas naturais, que são muitas, comam cozidos nas Furnas e fiquem tontos na Furna do Enxofre, mas em segurança, quando vos pudermos tirar de lá, se aparecerem canibais ou baleeiros saudosistas doidos para vos trancarem arpões no lombo”.
Quando, afinal, deveria ter pensado em nós, que vivemos em ilhas mas somos portugueses. Quando, afinal, deveria ter posto em primeiro lugar, a saúde dos açorianos. Mais que a mobilidade ou a continuidade territorial.
Agora se vê: se a pretensão do Governo Regional tivesse sido aceite, talvez fôssemos a única região do País sem casos positivos. Sem aviões a chegar, com potenciais infectados, fossem continentais, estrangeiros ou açorianos residentes que tivessem partido para férias. Ninguém entrava, porque o interesse colectivo assim o exigia.
Desvalorizar o terrível drama que a Humanidade está a viver é timbre de políticos medíocres. Para eles, seria tão mais fácil se não houvesse Coronavírus. Mas há. E como eles não sabem o que fazer, tentam dizer a toda a gente que não há. Que não é preocupante. Que uma facada é bem pior. Que não devem sentir medo porque está tudo controlado…
As crianças pintam arco-íris e asseguram que vamos todos ficar bem.
Exilado no Porto Martins, só me resta acreditar nas crianças. Afinal, são elas o futuro…
Resta saber, no entanto, o que significa ficarmos todos bem. Bem de saúde? Espero muito que sim. Mas bem de tudo, tenho a certeza de que não ficaremos.
Sofreremos na Economia. Sofreremos no Emprego. Sofreremos por todos os que já morreram e vão morrer. Sofreremos pelos médicos que tiveram de decidir quem ficaria com o ventilador e quem deixaria de respirar.
E sofreremos pelos políticos que temos de sofrer.
Post Scriptum: A minha vénia ao Dr. Tiago Lopes, Director Regional da Saúde. Deve estar exausto, mas não pára de trabalhar. Tem sempre a evolução actualizada e comunica com competência e eficácia, sem dourar a pílula ou evitar perguntas, usando apenas as palavras necessárias, sem politizar as questões ou tentar capitalizar créditos. Bem-haja por ser como é. E, quando tudo isto for apenas uma má memória, que nos lembremos dele no Dia da Região, apesar de estar certo de que não trabalha para medalhas. A minha gratidão de nada vale. Mas aqui fica.
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário