JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 5 de abril de 2020

Da Califórnia de Luciano Cardoso - PESADELOS VIRAIS


PESADELOS VIRAIS

... E a crise continua...
Nem vai acabar tão cedo.
Não se vê ninguém na rua
Reina no mundo o medo.

O “filha da mãe” do vírus
Intimida, desbarata.
Semeia dor nos suspiros
De quem infeta e mata.

Abusa do seu veneno
Com o seu jeito velhaco,
Torna o grande pequeno
E faz o forte mais fraco.

Ataca-nos de repente,
Dá-nos cabo do miolo.
Faz muito inteligente
Cair no papel de tolo.

Com seu pânico, alerta:
“Deixem-se brincadeiras.”
Pois muita gente esperta
Só espirra baboseiras.

Quem fala só por falar
Começa e não se cala.
Há que saber escutar
Quem percebe do que fala.

A quem estudou lhe cabe
O papel de informar
E partilhar o que sabe
Sem ter de especular.

Aproveitam charlatões,
Feitos especialistas,
P’ra cuspir opiniões
Armados em cientistas.

É um tal abrir a boca
E asneirar sem tafulho.
Se a descrição é pouca,
Até nos dói o barulho.

Detesto os alaridos
Dos palradores artistas
Que se fazem entendidos
Só para darem nas vistas.

No meio da confusão,
Do receio e da ânsia
Aumenta a devoção
Pela Santa Ignorância.

O Corona já sabia
Poder com seu património
Tornar esta pandemia
Num maldito pandemónio.

Património de dor,
Contagioso sofrer,
Pois o vírus estupor
Mata e não quer morrer.

Gosta d’espalhar a morte
Como bem lhe dá na gana
E fazer-se muito forte
Com a fraqueza humana.

Ao ver-nos tão coitadinhos,
Impotentes e sem cura,
Vai-nos tapando caminhos
Menos o da sepultura.

E quem quer bater à porta
Da derradeira morada
Com a esperança morta
E a fé já apagada...?

No escuro que assusta,
O vazio amedronta.
Nesta vida o que custa
É sabermos o que conta.

E quem só conta consigo,
Por ter o rei na barriga,
Corre enorme perigo.
O diabo que o diga.

À solta, com malvadez,
Diz porque não é segredo:
“Do vírus da estupidez
É que deviam ter medo.”

E eu que não sou medroso
Nem estupido, por ora,
Temo é sendo idoso,
Que não me venha agora
O Corona venenoso
Dizer-me, “chegou a hora.”

Já há dor em demasia
E também mortes a mais
Dispenso bem a agonia
De pertencer aos mortais
Vítimas, noite e dia,
Dos pesadelos virais. 


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário