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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Da escritora Graziela Veiga - NUNCA MAIS...


NUNCA MAIS...

Ela existia...ela era feliz do seu jeito, mesmo que não tivesse tudo. Porém, esperava que, um dia, algo a fizesse despertar e mergulhar num mundo desconhecido.

Ela cresceu e tornou-se uma jovem bonita, indecisa, talvez, mas sensível, cheia de esperança e de sonhos. No entanto, alguns passíveis de realizar, outros nem tanto...mas ela imaginava os sonhos assim, sonhados em grande.

Ela vivia o dia a dia, com calma, serenidade, pois era a sua maneira de estar e de sentir a vida. Porém, apesar de só, sentia-se amada pela família, nomeadamente, pelos pais.

Ela era pouco extrovertida. Era insegura, mas tinha uma personalidade forte. Não gostava de se relacionar com todas as pessoas. Era criteriosa, tinha poucos amigos, e os que tinha, eram seleccionados, não pela riqueza monetária, mas pela personalidade, pela inteligência, pela empatia. Talvez pensassem que era orgulhosa, mas não correspondia à verdade. Se calhar, era a forma encontrada de se proteger, a fim de que a sua vida não ficasse demasiado exposta, pois gostava de um certo mistério...definição que a caracterizava desde criança.

O tempo era o seu maior aliado, ela aprendera que o tempo é remédio para quase tudo, por isso, não adiantava precipitar-se. O que tivesse que ser para ela, à mão viria ter. Não corria atrás...mais valia esperar.

Decorridos anos...após alguns namoricos, nada demais, ela ainda não tinha encontrado aquele que seria o grande amor da sua vida. Ela não sabia o que isso era, pois nunca tinha amado alguém de verdade. Se calhar, o Príncipe que ela esperava, ainda não tinha chegado, decerto pela falta do cavalo que estava ocupado. Mas eis que, de repente, sem se aperceber, já estava envolvida, sem volta a dar. O Príncipe apareceu, discreto, sem alarde. Porém, não era quem ela tinha esperado a vida inteira. Este tinha algo diferente, era alguém que nunca lhe estivera destinado. Mas nada impedia que o amasse. Ultrapassava qualquer pessoa, era algo transcendental. Estava para além e aquém da razão. O amor chegara quando e com quem menos esperava.

Quantas vezes, olhamos para determinada pessoa, e julgamos ser impossível surgir qualquer clima de amor entre dois seres que nada têm a ver um com o outro. Mas nunca nos devemos admirar, ou negligenciar essa hipótese, pois a vida é cheia de mistérios infindáveis.

Foi o grande amor da vida dela...amaram como ninguém jamais ousou amar. Um amor puro, verdadeiro...amor além da vida.

Não foi amor à primeira vista, mas ela sentiu que amava de verdade, a primeira vez na vida. Quando os olhares se encontraram e se trocaram, houve um nervosismo, medo, uma mistura de sensações que nunca havia sentido antes, meio estranho, mas simultaneamente incrível e bom.

Ela, naquele dia, tinha-se encontrado no abraço do amado, e passou-lhe uma segurança enorme. Houve um momento em que o mundo parou, não havia mais nada, mais ninguém. Ela só queria ficar ali, para sempre, sentindo o seu coração bater aceleradamente seguindo o ritmo do dele. Pensou que seria sonho, ou algo da sua imaginação, mas não, era verdadeiro. Havia brilho no olhar. Um sorriso enorme...um caminhar nas nuvens, um pôr-do-sol que ficava à espera para ser visto, dando lugar a um novo dia em que tudo se iria repetir ou talvez não. Mas o amor? Oh! Esse continuava a crescer...havia poesia, música, flores...e um sol radiante. Tudo se tornara belo, tal como nunca teria acontecido antes.

Era indescritível, mais para ser vivido do que contado, pois os grandes amores permanecem para sempre...

Aquele momento tornou-se inesquecível, e prolongou-se pela vida fora... acreditaram um no outro, amaram-se e voltaram a amar, até que a morte os separasse. Fizeram promessas, mas o que restou dos dois, foi apenas boas recordações, o melhor de cada um, o mais sublime dos sentimentos. Algo inexplicável, que nem todos os simples mortais experienciam. Guardaram aquele amor até ao fim das suas vidas, pois um amor assim, nunca deveria morrer...mas foi assim que a vida passou e souberam que nunca poderiam ser eles dois, apesar dos corações se pertencerem.

Porém, a solidão chegou primeiro, e ela imaginou aquele amor, mas nunca mais...os dois, outra vez, nunca mais...

24.07.2020

Graziela Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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