JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 7 de julho de 2020

Da escritora Graziela Veiga - O VENTO...



O VENTO...

Desde criança que o vento me fascina. Hoje, acordei ao sabor do vento. Fiquei inerte, só o vento e o tic-tac do relógio, nada mais.

Fechei os olhos e pedi um favor ao vento - leva tudo que for desnecessário, deixa-me apenas o que couber no coração, pois o coração é o lugar mais seguro para guardar tudo o que nos é querido.

Sempre fui obcecada pelo silêncio, pois permite-me ouvir o ruído do vento. Elevo os meus pensamentos, sinto um determinado desconforto, como se o vento tivesse levado alguém que me faz falta...

Por momentos, detestei o vento...mas logo fiz as pazes. Como não amar o vento que tanto já me fez sonhar? Tenho que transformar sonhos em realidades, pois quando o tempo passa, o vento tudo leva, sobra apenas a minha verdade. Ainda exitei em voltar, mas o vento balançou os meus cabelos, tocou-me o rosto e mostrou-me que o caminho é para a frente.

O vento é sempre o mesmo, só muda a intensidade, mas a resposta é totalmente diferente em cada folha. Somente a árvore que seca, não notará a diferença, visto ficar inerte, sem balançar, pois já lhe falta razões de continuar.

Assim é a felicidade, leve como uma pluma, tudo que é efémero, se desfaz. Não podemos segurar o coração, tal como não conseguimos agarrar o vento. O coração é para amar, não para prender.

O vento é suave, por vezes, brisa mansa, mas sempre frio e implacável. Quando penso que o vento está contra mim, batendo-me no rosto, imagino o avião, pois é em ventos contrários que ele decola.

Por vezes, tenho a tentação de culpar o vento pelo que ele me levou, mas nem sempre ele é o culpado, sobretudo quando eu deixei a janela aberta, quando não tive o devido cuidado.

Espero que o vento me traga o perfume das flores, novas esperanças e que Deus me ajude a concretizar alguns dos meus sonhos. Que eu tenha a humildade suficiente para deixar os meus sonhos voarem como o vento, se renovarem com o tempo, igual às borboletas que vão pousando sobre as flores. Cada uma exala um perfume diferente, nenhuma é igual, tal como os dias, nenhum é igual. Alguns trazem alegria, outros sofrimento. Mas com o tempo tudo se renova e, eu reinvento-me. Desejo ter asas de borboleta, para que eu encontre o caminho do vento, invento uma canção, daquelas que a banda nunca toca sem razão, pois há muitas razões de viver.

Que o caminho seja brando a meus pés, o vento sopre leve em meus ombros, que o sol brilhe cálido sobre a minha face. Que os meus ramos sejam sacudidos pelo vento, mas que o meu tronco permaneça imóvel e sereno. E assim, chegará o meu momento de ver o sol.

07.07.2020

Graziela Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário