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terça-feira, 21 de julho de 2020

Uma grande mãe (14 de julho de 2010)



Uma grande mãe
(14 de julho de 2010)

Em Portugal, e mesmo aqui no Brasil, revelei que, em Angola, os meus maiores amigos eram de etnia negra, muitos deles jogadores de futebol, incluindo o Chipenda, que era irmão do Daniel Chipenda, na altura um dos líderes dos terroristas. Inclusive, na Bela Vista, vila que ficava entre Nova Lisboa e Silva Porto, como árbitro dirigi um jogo de negros na totalidade. Foram os próprios que pediram ao meu comandante de companhia para eu estar presente naquele jogo. Nada de anormal. Lá estive e conduzi a partida com aquela peculiar diplomacia, como se tratasse, ao nível militar, de uma acção de "psico", muito utilizada pelas tropas portuguesas junto das populações negras.

Aqui no Brasil, também conheço algumas famílias negras com quem mantenho uma relação saudável. Mas há sempre uma que fica mais perto do nosso coração, como aconteceu em relação à família Maurício de Freitas, repartida pelo Rio de Janeiro, Niterói e Itaperuna. Uma família enorme, creio que 13 filhos na totalidade, o que até se compreende porque não havia televisão naquela época. E assim sendo, dá para perceber que, em muitos casos, fazer filhos era uma satisfatória ocupação dos tempos, como, por certo, aconteceu com a D. Floripes da Silva, adorada pelos filhos e pela esmagadora maioria da população de Itaperuna, por ser uma senhora divertida e de enorme coração.

Conheci, através das duas filhas que residem em Niterói, a D. Floripes. A nossa amizade ficou tão arreigada ao coração que até parecia que nos conhecíamos há longo tempo. Para além de amiga que me adorava, considerava D. Floripes como uma "segunda mãe". Divertia-me quando ela dizia que eu tinha "olho de atrevido" ao paquerar as mulheres. Não era tanto assim.

No Carnaval do ano de 2009, D. Floripes veio para Niterói. Ela sempre se fascinou com o Carnaval e, mesmo com a sua avançada idade, gostava de sambar. Óbvio que isso está no sangue dos brasileiros. Desse Carnaval, escrevi uma matéria para o Jornal Magazine de Divinópolis, concretamente sobre o desfile das Escolas Campeães. Falando com a editora do jornal, lá colocamos, na referida matéria, a foto de D. Floripes, mais uma das filhas que desfilaram. Penso que desfilaram quatro. As duas que viviam em casa com a mãe e as outras duas que residem em Niterói. Foi uma festa ver a foto no jornal.

Estive no aniversário da D. Floripes (93 anos), sempre lhe telefonava no Natal, na Páscoa e no Dia das Mães, ritual que mantive recentemente, no segundo domingo do mês de Maio em curso.

Na segunda-feira, 24, de Abril, deparo com uma mensagem no meu celular que me deixou completamente gelado: a D. Floripes havia falecido no domingo, dia 23, às 16 horas. Não pude conter a enorme tristeza e a comoção. Morreu a (minha) "mãe negra". Que descanse em paz e que Deus a proteja no "outro lado da vida". Bem merece pelo que fez pelos filhos e pela sociedade da sua terra.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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