A SALA GARGALHOU!
Tenho feito ultimamente algumas pesquisas sobre a atividade parlamentar nos Açores e isso leva-me a recordar momentos inesquecíveis.
Digo inesquecíveis porque sempre apreciei um bom orador e a nossa Assembleia Regional foi palco de uns tantos, faculdade que tende a rarear atualmente entre os deputados.
Bem novo, assisti, no Amor da Pátria, às sessões da primeira Legislatura, depois acompanhei os trabalhos parlamentares na Casa do Relógio na Colónia Alemã, sempre como curioso, mas já no pré-fabricado, ainda na Colónia Alemã e depois na sede construída na Rua Marcelino Lima, fi-lo na qualidade de jornalista, trabalhando para a RDP-Açores (Antena 1 Açores, agora).
Talvez não seja justo nomear certos parlamentares porque isso implica imediatamente esquecer outros também dignos de referência quando se pensa no Parlamento enquanto areópago de grandes tribunos que ali pontificaram.
Arrisco, no entanto.
Arrepiavam os cabelos os despiques entre Mota Amaral e José António Martins Goulart, ou o confronto de Carlos César com Victor Cruz.
Álvaro Monjardino, embora "relegado" para a condução dos trabalhos, tinha intervenções magníficas.
Alvarino Manuel Pinheiro e José Decq Mota, com estilos diferentes, figuram no quadro de honra dos deputados distintos que passaram pelo Parlamento dos Açores.
Mais recentemente Zuraida Soares ganhou lugar na galeria dos notáveis.
Muito no princípio gravei na memória uma frase de Mota Amaral num dos seus mano a mano com a mariense Conceição Bettencourt, ainda no Amor da Pátria.
Acusado de desenvolver raciocínios maquiavélicos, o presidente do Governo respondeu que não, pois seria Maquiavel que teria tido raciocínios "bettencúrticos"!
Alvarino Pinheiro dificilmente terminava uma fala sem a coroar com uma ironia pronunciada à moda da Terceira.
Lembro-me de se estar a discutir em plenário a necessidade de desratização, sobre o que Alvarino Pinheiro atalhou: façam-na simultaneamente, porque os ratos da Praia e os de Angra não conhecem as divisões administrativas!
Reis Leite, que presidiu ao Parlamento depois de sair do Governo, era um pratinho. Não continha o seu espírito jocoso.
No pré-fabricado e devido à exiguidade de espaço o equipamento da RDP era montado mesmo junto à Mesa.
Um velho gravador da estação tinha um mecanismo de confirmação de que as gravações estavam a ocorrer sem falhas que consistia em carregar num botão e ouvir, com um ligeiro desfasamento, a captação sonora.
Subira à tribuna o faialense José Decq Mota, na altura eleito por São Miguel. Iniciou as saudações da praxe.
Por distração do técnico da rádio o som da verificação da gravação saiu muito alto.
Decq Mota volta-se espantado para Reis Leite e atira:
- Senhor Presidente, estou a ouvir uma coisa estranha!
- É a sua voz, senhor deputado, retorquiu o Presidente com o repentismo habitual.
A sala gargalhou!
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