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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Do Blog da prima - Da escritora Letícia Mariana


 Benê e Sheldon são meus personagens autistas favoritos e, conhecendo-os, sei que será bem mais fácil o entendimento sobre a Síndrome de Asperger. A dificuldade que ambos têm em fazer amizades é real, assim como a minha.

 Lembranças do colégio: angústias!

 Lembro que eu quase nunca levava o meu celular para o colégio, porque eu tinha medo de me distrair ou dele tocar, talvez de alguém roubar. Levava vários livros para ler e todos os adolescentes ficavam rindo, diziam que eu era nerd, alien e que só lia livros de velho. E mesmo quando era um romancezinho adolescente, eles achavam muito esquisito que alguém que não fosse professor levasse livros para a sala. E o celular? Bem, além de tudo, eu realmente tinha pavor de alguém roubá-lo, porque os professores me alertaram dos constantes roubos de celular nas aulas, existiam muitos estudantes malvados e que roubavam para comprar drogas.

O único dia que eu levei o telefone, ele simplesmente tocou com um alarme que a minha mãe colocou e esqueceu de tirar! Eu fiquei com tanta raiva naquele dia, nossa, mas eu dei uma bronca na minha mãe e os papéis inverteram naquele momento, porque a professora não ficou nada contente e não acreditou quando eu disse que não era culpa minha. Lembro dela dizendo: "Tudo bem, Letícia, você é uma ótima aluna, mas não vou acreditar numa desculpinha dessas, podemos voltar pra aula?". Meu sangue ferveu! Fiquei calada, afinal, precisamos respeitar nossos professores, mas vocês imaginam a minha vontade naquela hora, não é? Tive que me controlar! E minha mãe teve que me aturar naquele dia, porque eu não parava de lembrar dos cochichos dos outros colegas: "A perfeitinha levou uma bronca, seria melhor se saísse de sala!" e outro: "Deveria ser expulsa ou morrer logo!". Ainda bem que adolescência passa, né? Mas a dor no peito, essa nunca passa. Ainda sinto dor ao lembrar das vozes de cada um dos jovens, sinto angústia.

O autista sempre será autista!

A verdade é que a criança autista vira um adolescente autista, que vira um jovem autista, adulto e idoso autista. E segue com seu jeito, suas dificuldades, habilidades, segue sendo TEA! E é preciso estudar, conhecer e incluir. É preciso ensinar aos seus filhos que as diferenças precisam ser respeitadas! Não é só zoação, tampouco brincadeira, é preconceito. E precisamos quebrar preconceitos! O preconceito pode destruir uma bela amizade, aliás. Não entender de fato, não saber como conviver de fato, pode te impedir de ter um amigo afetuoso, leal e muito bacana que é o amigo TEA! Já pensou nisso? 😊

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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