Memórias a giz
É um daqueles tesourinhos que nem sabia da sua existência. Por
via do Facebook, e simpatia do professor Luís Vasco e colega/amigo João Mendes, tive
acesso a uma foto da minha sala, da terceira classe, na Escola Primária Infante
D. Henrique, no Alto das Covas.
A fotografia, além de verdadeira preciosidade em termos sobretudo afetivos, constitui um convite irrecusável ao desfiar de memórias.
A fotografia, além de verdadeira preciosidade em termos sobretudo afetivos, constitui um convite irrecusável ao desfiar de memórias.
As memórias são a giz, que quase guinchava no quadro de ardósia. O registo para a posteridade surge a preto e branco, mas pelos olhos das meninas e meninos da sala (a última do corredor à direita, do segundo piso) existirão mais cores do que o arco-íris.
Como sou desastrado a fixar rostos, o João Mendes ajudou a identificar os alunos mais de três décadas após o disparo da máquina do fotógrafo.
Estão lá, no núcleo dos decifráveis, a Maria João, a Maria José, a Ângela, a Patrícia, o Paulo Neto, o João Mendes, o Leonel, o Zé Manel, o João Rocha e o João Raul, além do senhor professor Luís Vasco.
Pelas fantasias, facilmente se percebe que o enquadramento era uma festa de Carnaval. Estávamos em 1979 e todos mostravam caras e sorrisos de quem está feliz da vida.
Redações, ditados, contas e equações preenchiam o sumário dos deveres para concretizar ao longo do dia de aula.
Os dois recreios (um, o maior, de manhã, o outro à tarde) davam lastro à fantasia das brincadeiras. Futebol, berlindes, macaca, piões e tantas outros jogos improvisados para driblar o quase nada da realidade animavam a malta e tudo parecia uma alegria.
Todos crescemos e aprendemos a misturar ilusões e desilusões. Já somos homens e mulheres totalmente envolvidos no reboliço da existência, trilhando caminhos e destinos que raramente se cruzam.
Fomos forçados a adaptar sonhos às circunstâncias e aprendemos lições que não figuram nos livros e cadernos.
De qualquer modo, e mesmo sendo juiz em causa própria, assumo o seguinte: sala como a nossa não há memória.
joaorochagenio@hotmail.com
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