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terça-feira, 14 de março de 2017

Do jornalista João Rocha


O meu cabelo às mãos do outro João Rocha



                                                                              
                                                                                          


Década de setenta, século findo. A minha mãe levava os quatro filhos ao barbeiro e dizia algo do género: “Mestre Pedro, corte o cabelo a estes rapazes o mais curto possível”.

A barbearia do Mestre Pedro situava-se na rua da Palha, mesmo em frente ao edifício do jornal “A União”, minha casa laboral por quase duas décadas.

Era horrível levar uma carecada geral, mas Mestre Pedro limitava-se a cumprir a ordem maternal.


Também o cabelo crescia rápido e a esperança/sonho de ter um cabelo à Travolta nunca morria verdadeiramente.

Uns anitos depois, já comigo a decidir o tipo de corte, tornei-me cliente do Mestre Rocha, no Páteo de Alfândega. Normalmente escolhia as manhãs de sábado e nunca tinha pressa para ser atendido.

Adorava ouvir os adultos a falar de tudo e mais alguma coisa e, além disso, as revistas disponibilizadas faziam com que não hesitasse a conceder a minha vez a outro cliente.

A barbearia, na altura, representava um espaço de verdadeiro culto social.

Depois, cresci, a cabeça ganhou entradas e o cabelo avançou, cada vez mais, para o grisalho.

Confesso, já não tenho pachorra para grandes esperas no cabeleireiro/barbeiro. Marco a hora antecipadamente por telefone e cortar o meu cabelo nem dá trabalho para além de um quarto de hora.

Entretanto, e provando que o Facebook ultrapassa o território de ação de gente fadada ao comentário estúpido/ignorante, dei de caras com um homónimo, mestre na arte do pente e tesoura.

Com um visual à António Variações, logo simpatizei virtualmente com o João Rocha, jovem terceirense e talentoso barbeiro, sempre atarefado a formar colegas e formando-se a si próprio em múltiplos espaços geográficos.

Com barbearia nas Lajes, irá trabalhar duas vezes por semana (terças e sextas), na rua Direita, uma das mais emblemáticas artérias do burgo angrense.

Dá gosto em ouvi-lho falar com evidente entusiasmo, só possível à boleia da paixão, das vivências profissionais e de todos os segredos associados à saúde capilar.

Mesmo sendo feio como um raio, às mãos do outro João Rocha, terei sempre um corte de cabelo todo XPTO. De qualquer modo, as saudades das carecadas à Mestre Pedro são mais que muitas…
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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