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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sábado, 25 de março de 2017

Do jornalista João Rocha







“O senhor Padre” José Garcia




                                                     





Assertivo. O termo, à época, não estaria na moda e eu nem fazia ideia do seu significado, mas assentava como uma luva na personalidade de José Garcia (falecido a 15 de Março de  2011, aos 82 anos de idade), o Padre que me batizou.

O contexto temporal é a década de setenta do século passado. O “senhor Padre” José Garcia (o respeitinho sempre foi muito bonito e não faz mal a ninguém) era o pároco da Sé e principal dinamizador da catequese.
Quartas à tarde, após a escola, e aos domingos, por volta das 10
 horas, marcava presença nas aulas da catequese, que decorriam no pequeno anexo lateral na Igreja da Sé.
Tudo se apresentava como uma aventura à dimensão XL que só as crianças conseguem conferir ao quotidiano.
Andar no corrimão de ferro, na escadaria de acesso à sala da catequese, significava destreza física e determinava celeridade para evitar os olhares e posteriores reprimendas dos adultos.
As lições à volta do catecismo também prendiam facilmente a minha atenção. Os relatos dos milagres de Jesus Cristo proporcionavam-me a empolgante sensação de ficar com “pele de galinha”.
O Padre José Garcia marcava presença regular nas aulas e corrigia, logo à nascença, comportamentos menos disciplinados.
Aos oito/nove anos é impossível decifrar a idade de um adulto. Olhava para ele e via um padre “muito, muito grande” e com um feitio pouco propenso à brincadeira.
Não era, à partida, uma pessoa dócil, mas também nunca o imaginaria a ceder a tentações fúteis da vaidade humana – tipo roupa de marca ou carros vistosos. Inspirava-me respeito, um certo receio até face à perspetiva infantil da análise, mas evidenciava uma clara tendência para uma atitude assente nos princípios e ações da justiça e bondade.
Ajudar à missa de domingo das 11 horas, mais vocacionada para os meninos da catequese, era uma verdadeira festa e tarefa cuja responsabilidade fazia tremer-me um pouco as pernas e ruborizar o rosto na altura das leituras.
Às vezes, sobretudo quando jogava o Lusitânia, arriscava pedir-lhe dispensa antecipada. 
Assertivamente (e quase que aposto fingindo um ar de zangado) respondia: “Joãozinho, primeiro o dever, depois o prazer”.
Nem ripostava, está bom de escrever. Tenho é que agradecer, do fundo do coração, as referências transmitidas de um homem sem medo de dizer o que lhe ia na alma.
Fiquei crente até ao osso. E, ainda hoje, adoro contemplar a minha antiga sala da catequese. Já não arrisco é escorregar pelo corrimão… 

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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