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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 7 de março de 2017

Do jornalista João Rocha




 Curto pagar o culto

                                                                               


Nota prévia: sou fanático por pagar contas. É um verdadeiro fetiche, dá-me vida renovada, endurece as articulações e a mente trabalha a mil à hora (tenho cuidado nos dias de operação STOP).


Assim, é fácil perceber o meu súbito desejo de me mudar, o mais rapidamente possível, para a freguesia da Ribeirinha graças a Deus e a uma carta do pároco local dirigida aos fiéis.

O sacerdote da paróquia de São Pedro (e, muito bem, na minha humilde opinião de pecador) puxou as orelhas a quem se esqueceu de pagar o culto, mesmo beneficiando dos inúmeros serviços concedidos pela Santa Madre Igreja.

“A sua família faz parte do número das que não contribuíram para as despesas, mas que continuam a beneficiar dos serviços da paróquia”, precisa o pastor às ovelhas tresmalhadas.

Para que ninguém tenha dúvidas, até ao nível existencial, a missiva deixa claro como água benta o seguinte: “A cada ano que passa torna-se cada vez mais difícil gerir os recursos financeiros da Paróquia, dado que as despesas com a manutenção dos três Centros de Culto, com o pessoal e serviços de Evangelização e Caridade têm aumentado de ano para ano. No entanto, as receitas não têm acompanhado este aumento, antes pelo contrário têm diminuído”.

Os paroquianos têm de ter em má conta os seus calotes em relação ao culto. Fazer Caridade está pela hora da morte. Quantos já não beneficiaram dos serviços de Caridade? É discutível, porém, se a mesma foi servida em quilos ou litros, mas há mistérios que se querem insondáveis.

E basta olhar com um bocadinho de atenção para perceber a forma simplista e desprendida dos bens terrenos como a maioria dos ministros de Deus vive entre nós. Carros a cair de podres, batinas esburacadas, roupas velhas dos chineses pintam o triste quadro do nosso humilde clero.

Sem me querer fazer mais crente do que os outros, dou nota do empenho em pagar os serviços paroquiais.

Depois de fixar residência na Ribeirinha, provavelmente entre o Meio da Rua e o Texas (Serra, para os menos informados), irei contactar o padre para pagar o culto uns 10 anos adiantados. Utilizando um termo brasileiro, curto pagar o culto.

Faço também firme questão de liquidar, de forma antecipada, as despesas relacionadas com a extrema unção, funeral e missas pela minha devota alma.

Homem prevenido, vale por dois mortos. E, se o senhor padre não se importar e der demasiada trabalheira, pretendo uma carta de recomendação para dar entrada no Céu. Agradecia que fosse em envelope fechado.
Joaorochagenio@hotmail.com
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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