Curto pagar o culto
Nota prévia: sou fanático por pagar
contas. É um verdadeiro fetiche, dá-me vida renovada, endurece as articulações
e a mente trabalha a mil à hora (tenho cuidado nos dias de operação STOP).
Assim, é fácil perceber o meu súbito
desejo de me mudar, o mais rapidamente possível, para a freguesia da Ribeirinha
graças a Deus e a uma carta do pároco local dirigida aos fiéis.
O sacerdote da paróquia de São Pedro (e,
muito bem, na minha humilde opinião de pecador) puxou as orelhas a quem se
esqueceu de pagar o culto, mesmo beneficiando dos inúmeros serviços concedidos
pela Santa Madre Igreja.
“A sua família faz parte do número das
que não contribuíram para as despesas, mas que continuam a beneficiar dos
serviços da paróquia”, precisa o pastor às ovelhas tresmalhadas.
Para que ninguém tenha dúvidas, até ao
nível existencial, a missiva deixa claro como água benta o seguinte: “A cada
ano que passa torna-se cada vez mais difícil gerir os recursos financeiros da
Paróquia, dado que as despesas com a manutenção dos três Centros de Culto, com
o pessoal e serviços de Evangelização e Caridade têm aumentado de ano para ano.
No entanto, as receitas não têm acompanhado este aumento, antes pelo contrário
têm diminuído”.
Os paroquianos têm de ter em má conta os
seus calotes em relação ao culto. Fazer Caridade está pela hora da morte.
Quantos já não beneficiaram dos serviços de Caridade? É discutível, porém, se a
mesma foi servida em quilos ou litros, mas há mistérios que se querem
insondáveis.
E basta olhar com um bocadinho de
atenção para perceber a forma simplista e desprendida dos bens terrenos como a
maioria dos ministros de Deus vive entre nós. Carros a cair de podres, batinas
esburacadas, roupas velhas dos chineses pintam o triste quadro do nosso humilde
clero.
Sem me querer fazer mais crente do que
os outros, dou nota do empenho em pagar os serviços paroquiais.
Depois de fixar residência na
Ribeirinha, provavelmente entre o Meio da Rua e o Texas (Serra, para os menos
informados), irei contactar o padre para pagar o culto uns 10 anos adiantados.
Utilizando um termo brasileiro, curto pagar o culto.
Faço também firme questão de liquidar,
de forma antecipada, as despesas relacionadas com a extrema unção, funeral e
missas pela minha devota alma.
Homem prevenido, vale por dois mortos.
E, se o senhor padre não se importar e der demasiada trabalheira, pretendo uma
carta de recomendação para dar entrada no Céu. Agradecia que fosse em envelope
fechado.
Joaorochagenio@hotmail.com
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