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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Do jornalista João Rocha



Calma com os nervos



                                                           



É tiro e queda. Quando confrontado com uma situação de demora, o meu sistema nervoso sai fora do… sistema.
Dá-me comichão na cabeça, sopro constantemente, faço caretas e aperto as costas com as mãos.

No banco, no barbeiro, no restaurante, no centro de saúde ou numa qualquer fila de atendimento a espera leva-me quase sempre ao desespero. Muitas das vezes desisto, acabando por nem efetuar a tarefa que pretendia. Acresce que o nervoso miudinho (nunca fui apresentado ao graúdo…) também me ataca quando estou à frente da fila.
Nas caixas de multibanco, por exemplo, adio a execução de parte das operações desejadas (saldos, levantamentos e pagamentos) logo que sinto demasiada respiração alheia. Quando a Internet está lenta (o que acontece 9,9 vezes em 10) apetece-me dar uma cabeçada no ecrã do computador.


As emoções de um jogo do Sporting dão-me para pontapés imaginários que às vezes atingem a dolorosa realidade de encontro à cadeira da frente ou aos pés da mesa do café. Para desanuviar, chamo nomes simpáticos aos árbitros e aos adversários mais caceteiros.
Depois, ainda tenho a mania de levar o dia-a-dia quase ao cronómetro. Quinze minutos no duche, três no máximo para beber a bica, meia hora para escrever um artigo, intervalos de cinco minutos para consultar os e-mails e, num plano mais de lazer, caminhada de 55 minutos (com um rigor matemático) no Monte Brasil.
Mesmo sem necessidade de qualquer pressa, tenho imensa dificuldade em reduzir o ritmo da passada na rua, o que me leva a constantes ultrapassagens de peões.
Sou assumidamente pela pontualidade. Gosto de a respeitar e espero a mesma coisa na perspetiva dos outros para comigo.
Todavia, o melhor é tornar-me mais paciente em relação aos tempos que conduzem o pulsar da vida. No fundo, ter mais paciência, mesmo sem ser chinês. 
O galope da idade ensina a relativizar as coisas. Se não for para hoje, amanhã também é dia.
Na próxima vez que entrar na fila de espera dos CTT de Angra do Heroísmo, vou pensar numa demora de quase um século na entrega de um postal de Natal nos EUA. 
Metido no correio em 23 de Dezembro de 1914, o postal acaba de chegar ao seu destino em Oberlin, Kansas, depois de perdido durante 93 anos.
Ninguém sabe onde esteve o postal durante esta eternidade, mas o Serviço Postal dos Estados Unidos fez questão de o entregar
Refira-se, por último, que a destinatária, Ethel Martin, nunca leu a mensagem enviada pelos seus primos em Alma, Nebrasca, porque já morreu. Há gente mesmo impaciente


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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