485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

De um livro que não foi publicado


Nos almoços que o general Vasco Rocha Vieira oferecia, normalmente convidada um ou mais jornalistas. Num desses almoços, com altas patentes militares, fui, digamos, o “jornalista eleito”. Confesso que ali, perante altos comandos militares, me senti deslocado, apesar de ter encontrado algumas personagens conhecidas, também convidadas, casos dos Drs. José Guilherme Reis Leite e Alvarino Pinheiro. Mas, na mesa, fiquei entre os militares. Falava-se de política, das forças armadas portuguesas (inevitável), mas de futebol, nicles! Fui
auscultando, auscultando, até que, a dado momento, virei-me para um desses generais e lhe perguntei se era do Sporting ou do Benfica. O homem deve ter percebido que eu já estava fartinho de ouvir falar em militarismo e lá foi dizendo que era benfiquista, tendo eu ripostado que o Sporting estava no meu coração, afinal, o grande rival do Benfica. O almoço foi divinal, como sempre acontecia com Rocha Vieira. Durante a sobremesa (depois veio o café, o scotch e mais outras bebidas da especialidade), o general interpelou-me, questionando se eu tinha sido militar. Respondi de imediato, que sim, com passagem por Angola, onde conheci o Tenente-Coronel Rebocho Vaz. Foi então que passamos a conversa para Angola. Aí sim, já abri mais o diálogo, mas surpreendi o general quando lhe informei que, em Angola, a minha guerra foi outra, a de árbitro de futebol. O “cinco estrelas” ainda atalhou: nunca deu um tirinho, pelos vistos. Lancei um sorriso e respondi que tinha dado muitos tiros, mas com o apito na boca. O “cinco estrelas” e os outros que estavam ali perto de nós, desataram a rir. Um desses generais, até comentou: para si, uma bela guerra. Pois foi... só pegava na arma quando estava de serviço ao quartel.
 Manda a verdade dizer que ansiava para que o almoço terminasse, o que nunca foi habitual no solar de Rocha Vieira. Estava rodeado de muitas estrelas. Nunca gostei, excetuando aqui o anfitrião do referido almoço, o general Rocha Vieira. As estrelas de Rocha Vieira eram tão diferentes. Estrelas de bondade, de amizade, de solidariedade. Deixou nos Açores uma performance que ainda hoje é recordada com muita saudade. Por isso, prezo-me de ter sido um dos jornalistas que esteve sempre ao lado de Vasco Rocha Vieira. Senti isso naquele almoço, pelo fato de ter sido o único jornalista convidado. Mas também senti um forte alívio quando abandonei o Solar da Madre de Deus. Muitas estrelas para o meu feitio, confidenciei ao Dr. Alvarino Pinheiro, líder do PP – Partido Popular, antigo CDS, ou seja, aquele que está no centro, no meio do PS e do PSD. Como nunca ganha eleições, o PP está sempre na oposição.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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