Ilha do Pico
Sidónio Bettencourt
LUÍS BRETÃO – O Comendador Mordomo
Sidónio Bettencourt
LUÍS BRETÃO – O Comendador Mordomo
Por sermos de ilhas diferentes, o mar separou-nos e, por isso mesmo, não
sou dos que conhecem Luís Bretão dos tempos da infância, da escola ou da
juventude, no percurso natural de uma sã convivialidade com trocas de
experiências que alimentam a memória e o reconhecimento. A nossa amizade e
admiração mútua, é pura e sincera. Nasce da força das circunstâncias, de um
abraço de causas, princípios e valores. Nasce pelas relações de um compromisso:
o trabalho, o amor à
profissão, às empresas que servimos
e à terra que nos viu nascer.
No final dos anos 70, era para nós jornalistas,
o grande
embaixador da
Terceira, o Relações Públicas da SATA, o grande profissional de referência que
sabia em cada momento, do ponto de vista psicológico e humano, encontrar a
solução para cada dificuldade surgida. E eram muitas nas relações entre as
ilhas, entre as ilhas e Lisboa, entre as ilhas e as américas. Uma espécie de
anjo da guarda que a tudo sabia dar a sua bênção.profissão, às empresas que servimos
e à terra que nos viu nascer.
No final dos anos 70, era para nós jornalistas,
o grande
A minha admiração vem daí e do que percebi ser a sua ação nas múltiplas
dinâmicas que criava à volta das causas que defendeu. Sim, ele é um homem de
causas com um profundo amor á terra, à ilha/ilhas, ao seu povo, naquilo que ele
tem de melhor: a sua identidade, a sua cultura popular, a sua essência, as suas
singularidades.
Luís Bretão deitou mão a tudo o que poderia ser criatividade, renovação,
envolvimento, dinâmicas de grupo, participação. E foi no desporto, nas
autarquias, no associativismo, nas obras da igreja, na cultura. Com o advento
da Autonomia foi dos primeiros com grandeza a perceber que o desporto e a cultura
se cruzavam para garantir uma inevitável participação popular, fazer do local e
do bairro uma dimensão de ilha e de arquipélago. Muito mais, do muito que fez,
é a sua proposta sábia que nos deixa como exemplo e legado patrimonial. Ele,
multiplicou frentes e assumiu lideranças, criou raízes, semeou amizades. Foi um
empreendedor social com grande sentido de liberdade e pluralismo. Percussor da
verdadeira cidadania ativa, participativa, sólida e saudável.
Um dia, há pouco tempo, a Câmara Municipal de Nordeste homenageou
Monsenhor Augusto Cabral,- distinta personalidade nordestense- pelos seus 50
anos de sacerdócio. Um grande almoço/festa com mais de 900 participantes vindos
de todas as comunidades que tive a honra de apresentar. A determinada altura, entra
na sala Luís Bretão, acusando as debilidades da sua saúde mas feliz com um
sorriso do tamanho do mundo. E eu, meio incrédulo e surpreso, pergunto-lhe:”
Que faz um Terceirense vir de tão longe ao Nordeste? ” Resposta pronta. “ Sidónio,
eu não podia faltar nunca, a uma homenagem destas, a um homem destes, na
sua própria terra”. Num tempo de mentiras, escusas, desculpas de mau
pagador, de falsas modéstias, este gesto e tudo o que significa, foi mais uma
verdadeira lição que recolhi de um homem sério e amigo verdadeiro do seu amigo.
Numa singela homenagem que intimamente sempre lhe quis fazer, gravámos
em plenas festas do Espírito Santo, para a RTP Açores, RTP Madeira e RTP
Internacional, um ATLÂNTIDA, - nesse lugar carregado de história que aspira a
ser freguesia, famoso pelo clima, pelas suas casas senhoriais, solares, quintas
e jardins, - que é São Carlos. Quis o destino que eu visse esse programa, no
dia 3 de Outubro de 2009,em Toronto no Canadá. Confesso que me comovi com a
entrevista feita ao Luís Bretão, talvez pela lonjura, pelo simbolismo, pela
verdade das suas palavras, por estarmos os dois, sós, a conversar no mundo
inteiro, sentados junto ao Império da freguesia de São Carlos da freguesia de
São Pedro de Angra, que ela tanto ama. Comovi-me de verdade.
Mas sinto estar sempre em dívida com ele, pois nunca consegui cumprir
uma promessa, retribuir os seus insistentes convites: Passar por sua casa e
conversar, conversar, no seu ambiente mais querido e mais desejado por todos
quantos o vão visitar: O famoso alpendre das saudáveis tertúlias.
Há-de ser um dia destes, meu caro Luís Bretão, depois de um
Lusitânia-Santa Clara, em dia de tourada com toiros da “ganadera” Fátima
Albino, e antes de uma cantiga ao desafio entre a Maria Clara, o José Eliseu, o
João Retornado, o João Luís Mariano e o Lupércio, um “Pézinho” dos bezerros,
com João Ângelo e uma boa “chamarrita ” do Pico pelo meio, com vinho “Czar” do
Pico e “Donatário” dos Biscoitos.
O teu nome está perpetuado nesse magnífico pavilhão “Multiusos”. A melhor
forma de lembrar todos os dias de amanhã o que fizeste pelas gerações
vindouras.
Há tanto mordomo que nunca foi “Senhor
Comendador”, e muito “Senhor Comendador” que nunca foi mordomo. Tu
és Único. O eterno “ Mordomo - Comendador “da Terceira.
A tua generosidade nunca teve limites e a partilha foi sempre a tua
melhor oração.
Tu és aeroporto das Lajes, autarquias, associativismo, desporto, teatro;
Tu, és cantiga ao desafio, pézinho, festa do Divino, quinto toiro, dança
e bailinho, alcatra, vinho dos Biscoitos. América e Canadá. Império de São
Carlos e Lusitânia. Tu és a Ilha. Terceira e Povo. Ilhas dos Açores.
Quero confessar aqui para sempre. Tenho um enorme respeito por ti e pela
tua obra. Gosto muito, muito de ti, meu Caro Luís Bretão.
Obrigado pelo que me ensinas todos os dias.
Sidónio Bettencourt - Ponta Delgada, 29 de
Março de 2014
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