Depoimentos de pessoas amigas e
conhecidas, convidadas pela autora do livro, a distinta escritora Isabel
Coelho.
Ilha do Faial
Fernando Menezes
A Viagem da Amizade (1966-2014)
Corria o verão de 1966 quando embarquei
no navio “Carvalho Araújo” da velha e histórica companhia de navegação
“Insulana” com destino a Lisboa.
Depois de “aturadas” provas, tinha sido
selecionado pela Mocidade Portuguesa, juntamente com outros colegas, para
representar a ilha do Faial na inauguração da ponte sobre o Tejo que ocorreria
no dia
6 de Agosto desse ano.
Na juventude dos meus catorze anos,
vividos sempre nos limites da ilha, esta viagem tinha o sabor da descoberta e o
apelo da aventura. Pela primeira vez ia a Lisboa, essa cidade mítica e
deslumbrante, na altura a capital do império português.
A primeira paragem foi em Angra do
Heroísmo e recordo-me como se fosse hoje, que estava à nossa espera um rapaz aí
pelos vinte anos, de cabelo aloirado e conversa fácil que simpaticamente nos
convidou para almoçar na sua casa ali bem perto. Não o conhecia de lado nenhum
e achei aquilo extraordinário. Na minha terra não era hábito convidar desconhecidos
para casa assim à primeira vista. Esse jovem, generoso e bem-disposto, era o
Luís Bretão e começava ali uma amizade que se iniciou naquela viagem e que se
prolongaria até hoje, volvidos que são 48 anos. Sem nunca nos perdemos de
vista, fomo-nos encontrando ao longo dos anos nas várias esquinas da vida,
partilhando sonhos e desejos.
Muito mais tarde quis o destino que,
por afinidade e pela via colateral, as nossas famílias se cruzassem, como de
volta e meia acontece por estas ilhas que o mar só aparentemente separa.
Sobre o Luís muito tem sido dito e
muito tem sido publicado sobre uma vida de entrega aos outros, servindo sempre
com abnegação as mais variadas instituições e colectividades, promovendo e
resgatando o desporto, as tradições e os costumes da ilha que o viu nascer,
onde vive e que ama sem desfalecimento.
Com o Luís tenho tido o privilégio das
demoradas conversas sobre as nossas ilhas, a nossa cultura e os nossos afectos,
entre sabores de um “tintinho” e de um “queijinho”, outrora na cozinha e agora
no telheiro. Com o Luís vivi alguns momentos importantes da sua vida,
acompanhei a angústia dos momentos difíceis, apoiei algumas iniciativas de
divulgação da nossa terra e da nossa cultura popular e recordo com emoção
aquele magnifico encontro entre as nossas famílias, generosamente preparado por
ele e pela Luísa em Junho de 2008.
Do Luís recebo de vez em quando um
telefonema. Umas vezes para me tratar mal porque passei pela Terceira e não fui
a S. Carlos, outras para me dizer que vai enviar uns papéis e outras ainda para
trocar impressões sobre notícias destas ilhas que o seu espírito atento não
deixa passar.
Do Luís recebo sempre e sobretudo
provas da amizade que o tempo fortalece e um inestimável exemplo de coragem e
de amor à vida e à nossa terra.
Bem hajas amigo! Um forte abraço!
Fernando Menezes
Cidade da Horta, Janeiro de 2014
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