
FOGUEIRA
As manhãs da minha infância eram muito geladas.
Ao ritmo do pedalar da máquina de costura, esperávamos ansiosos os nossos pijaminhas de flanela.
Tão lindos...
Com detalhes
infantis na estampa...
O cheiro da canjica fumegando no tacho de cobre
nos dava a certeza de uma noite quente.
Quente pela canjica...
Quente pela fogueira...
Quente de amor...
"Já vou tacar fogo na fogueira" - dizia papai.
Bum... Ela aquela gritaria de alegria...
"Peguem as bandeiras, vamos rezar o terço" - mamãe dizia.
E devagarinho os mastros iam se levantando
ao som da canção da meninada:
"Com a filha
de João, Antônio ia se casar, mas Pedro
fugiu com a noiva na hora de ir pro altar..."
Viva Santo Antônio!
Viva São João!
Viva São Pedro!
"Põe mais lenha no fogão, canjica é boa quente
pra esquentar o peito" - mamãe pedia.
E a festa começava
ao redor da fogueira.
Nem precisava de convidados...
Papai, Mamãe e doze filhos animavam a festa.
E cantavam:
"Mas no fim dessa história, ao apagar a fogueira,
João consolava
Antônio, que caiu na bebedeira".
Fico lembrando e rindo da inocência ao escolher a música
para homenagear os três Santos da festa junina.
Santo Antônio ia casar com a filha de São João
mas São Pedro fugiu com ela e Santo Antônio
caiu na bebedeira... Que exemplo, hem?
Pura caçoada.
São João era o mais
Santo.
Recordando e rindo me aqueço
com a fogueira da minha infância.
Tão pura.
E ela continua acesa
dentro do meu coração.
Sem comentários:
Enviar um comentário