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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Do Catedrático das Letras - Dr. Manuel Sérgio



Um pouco da minha história…
Manuel Sérgio
       
Na revista Ludens (Outubro-Dezembro de 1979) do ISEF de Lisboa, escrevi um artigo intitulado “Prolegómenos a uma ciência do homem”, isto é, há trinta anos, onde defendia que “o desportista do futuro não vai ser aquele que pratica tão-só, mas aquele que compreende as práticas corporais como formas universais de inteligibilidade” e portanto com a consciência também da necessidade de uma ciência que confira paradigma científico e dignidade universitária aos jogos, aos desportos (e ao treino desportivo), à ginástica. A essa ciência, proveniente de um corte epistemológico, no seio da educação física, entrei de chamar ciência do movimento humano, referindo que se tratava de uma ciência humana, mas confundindo movimento com motricidade, pois que acrescentava que o objecto de estudo deste novo paradigma é o ser humano em movimento intencional.

Ora, movimento com intencionalidade, segundo a fenomenologia, é motricidade. Três anos depois, já falava, nas minhas aulas, na ciência da motricidade humana (CMH) e apresentava o método integrativo (ou da complexidade) como o adequado a esta área do conhecimento.
De acordo com Louis Althusser, se há uma nova ciência, há uma nova teoria, uma nova metodologia e uma nova prática. A teoria é a CMH, a complexidade é o método, e a prática é a totalidade humana, em movimento intencional e não o físico tão-só. Eu sei que nada do que adianto neste artigo é novidade. Mas foi-o, há trinta anos, quando se escrevia: “É no âmbito da fisiologia aplicada, fisiologia do trabalho muscular e fisiologia do exercício que a metodologia do treino desportivo tem a sua fundamentação científica” (Teotónio Lima, Alta Competição – desporto de dimensões humanas, Livros Horizonte, Lisboa, 1981, p. 122). Nesta altura, já eu adiantava que a fundamentação científica do desporto era uma nova ciência humana, onde o físico está integral, mas superado.
Assim, se o desporto é um sistema de acção complexo que exige uma análise sistémica de causalidades múltiplas – na visão global do desporto e na preparação do desportista há muitas dimensões a ter em conta, para além do que geneticamente se é: a física, a psicológica, a sentimental, a moral, a social, a política -, todas elas elementos irrecusáveis do desporto e do desportista! Era o tempo em que se valorizava, com admiração incontida, o futebol-total holandês do treinador Rinus Michels e do jogador Johan Cruyff.

Também, inspirado no futebol-total, os treinadores russos Lobanovsky e Vassiliev criaram, na década de 70, o chamado futebol científico, onde Blokhine era, de facto, um intérprete genial. “Flecha da Ucrânia” assim o cognominavam os jornalistas. E, não sendo um Cruyff, mostrava uma intuição genial. Com mais poder físico do que Messi, aproximava-se dele (sem o igualar), no improviso das fintas. Em 1975, foi distinguido com a Bola de Ouro, sendo assim considerado o melhor jogador da Europa. Mas o futebol científico morreu, logo que Blokhine deixou o futebol.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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