No desenvolvimento da Edição Crítica das Obras de Eça Queirós,
chega-se agora ao seu opus magnum, o romance Os Maias. Episódios da Vida
Romântica, publicado pela primeira vez em 1888. Esta que é inquestionavelmente
a obra mais conhecida, celebrada, estudada e imitada de Eça de Queirós
constitui o ponto mais alto não só da sua produção literária, mas também da
ficção portuguesa em todos os séculos.
Por força da sua dimensão e da sua complexidade narrativa e temática, Os
Maias exigiram demorada e trabalhosa
escrita. Para além disso, durante cerca de dez anos, a acidentada e
intermitente composição d’Os Maias conviveu com outros projetos e publicações.
Por exemplo, com A Relíquia, de 1887, e com A
Correspondência de Fradique
Mendes, cujos primeiros textos surgiram naquele ano de 1888. Durante esse
tempo, com avanços e com recuos, com dúvidas e com entusiasmos (porventura mais
aquelas do que estes…), Eça consagrou-se a uma tarefa cujo alcance literário e
pertinência crítica não cessam de nos surpreender. A bem conhecida expressão
que o romancista usou, numa carta de 20 de fevereiro de 1881 a Ramalho Ortigão,
quando falou de “um romance em que pusesse tudo o que [tinha] no saco”, não
consente muitas interpretações, para além daquela que é reforçada pelo contexto
em que aparece: tratava-se de uma empresa extremamente ambiciosa, expressão
culminante e genial de muito daquilo que Eça tinha para dizer aos seus
contemporâneos e à posteridade.
E contudo, a escrita, a revisão e a edição d’Os
Maias não estiveram isentas de dificuldades várias e de incidentes que, sendo
em parte explicados pelo facto de o escritor viver fora de Portugal, quase
levaram ao fracasso da iniciativa. Conforme na introdução a esta edição crítica
está relatado de forma circunstanciada, Os Maias podiam simplesmente ter-se
perdido, vítimas da desorganização e do desleixo de uma tipografia lisboeta.
Felizmente não foi assim, para nosso benefício, como leitores e como
admiradores desta “vasta machine”, conforme lhe chamou Eça, em carta de 10 de
maio de 1884 a Oliveira Martins.
Carlos Reis, “Nota prefacial” a
E. de Queirós, Os Maias. Episódios da Vida Romântica. Lisboa: Imprensa
Nacional, 2017.
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