A PEÇA : "UM NEGÓCIO NA EUROPA"
Local: Um galpão
abandonado...
**Maria Elisa (Ana
Francisca) está em cena varrendo, limpando e cantando:
Quando eu nasci a minha mãe não tinha leite
Fui criado como um bezerro rejeitado
Mamei em vacas em tudo que tinha peito
E cresci assim deste jeito
Fiquei mal habituado
Hoje sou homem e arranjei uma cabritinha
E passo o dia a mamar
Nos peitinhos da Fofinha
Eu gosto de mamar
Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha.
(No
meio da bagunça um homem dorme coberto por um lençol e quando Ana Francisca o
tira para limpar dá um grito de susto).
*Ana Francisca - Aiiiiii.... que isso???
**Bernardo Brito - (José Carlos de
Alcântara Albuquerque da Silva) - Desculpe-me Senhora, só estou fazendo um
quilinho...
* Ana Francisca - Pelo tempo, o Senhor
está fazendo é uma arroba!!!
*José Carlos - Faço isso todo dia e nunca
vi a senhora aqui...
*Ana Francisca - Crendeuspai... o Senhor
dorme nessa sujeira todos os dias? Claro que nunca me viu. Hoje foi o primeiro
dia que me mandaram pra cá. Sou diarista em uma empresa de limpeza. Prazer -
Ana Francisca! O Senhor faz o que da vida?
* José Carlos - Prazer, José Carlos! Na
verdade eu estudo...
* Ana Francisca - Um homão desse só
estuda? Filho de pai rico, né?
* José Carlos - Faço uns biquinhos... Eu
estudo uma possibilidade de ingressar na carreira política!
* Ana Francisca - kkkkkkk.... Nessa
animação toda??? Desculpa. É... o Senhor é bonitão e o povo gosta disso...
aparência... Mas, continue seus "estudos" que eu tenho que fazer o
meu trabalho.
(José Carlos pega um livro pra ler: Cereja
no decote de Marlene Gandra)
* Ana Francisca - Que livro bonito!
"Cereja no decote" Hummm... deve ser picante...
(cruzam o olhar, ela maliciosa e ele meio
sem jeito).
* José Carlos - Na verdade ele não é meu.
É do projeto "Leitura para todos". Em 2003, o professor de literatura
José Mauro da Costa teve a idéia de editar uma antologia para resgatar poesias
que invadiram nosso imaginário. Assim nasceu Ouvindo Estrelas, o
primeiro livro de graça na praça.
Depois, vários projetos seguiram a mesma
linha e hoje, já podemos encontrá-los também nas praças de Divinópolis .
E como eu gosto muito dessa autora,
Marlene Gandra, peguei-o emprestado e devo devolvê-lo assim que terminar de
ler.
* Ana Francisca - E o Senhor não pode
emprestá-lo pra mim?
* José Carlos - Sem problemas, desde que a
Senhorita passe-o para frente depois.
* Ana Francisca - Nossa.... estou tendo
uma idéia baca/ (é interrompida)
* * Lincow Silva - (Tõezim) - (Antônio
Americano do Brasil Mineiro) - Nafranciscaaa!!!! O Dotô Virso mandô falá que
vai te dá 6 mêis procê mudá a istrutura do garpão aqui. Cocê podi fazê o qui
quisé indesde que dá resurtado.
* Ana Francisca - Que susto Antônio! (dá
nele com a vassoura). E fala mais devagar. Qual a estrutura que o Dr Wilson
quer que eu mude? Ah... e meu nome não é Nafrancisca, é Ana Francisca! E por
falar em nome vou lhe apresentar um futuro político do Brasil: José Carlos!
* Tõezim - Prazer, Antônio Americano do
Brasil Mineiro, mas pode me chamar de Tõezim. Bão... o Dotô falô que é procê
inová... que é pra bolá arguma coisa pra se fazer desse garpão. Que ele te dá
prenos poderis e que confia nocê.
* Ana Francisca - Mesmo, Antônio? Ou melhor,
Tõezinho? Agora a pouco tive uma idéia e já vou usá-la aqui. Vou fazer daqui um
espaço de descontração. Podemos colocar uns banquinhos com livros para a
Leitura para todos, umas redes para os "quilinhos" depois do almoço
(olha para José Carlos e ri)... mesinhas para bate papo... (leva um susto com a
moça que entra nervosa)
** Larissa De Paula - ( Catherine Lira)
(entra espumando pela boca):
Encontrei meu marido às três horas da
tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
Ataquei-os por trás com mãos e palavras
que nunca suspeitei conhecer.
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêmea-ofendida,
uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.
Quando não pude mais fiquei rígida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo graças.
Desde então faço milagres.
CONTINUA
Sem comentários:
Enviar um comentário