Nuno Costa Santos
Em 1966 foi publicada a "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e
Satírica", um conjunto de textos então considerados "imorais".
Nuno Costa Santos lembra a obra e o alvoroço que gerou.
Passam 50 anos da edição
da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, escândalo
literário apreendido e matéria de julgamento em Tribunal Plenário, acusada de
ofender o “pudor geral”, a “decência”, a “moralidade pública” e os “bons
costumes”. Passa meio século desse serviço que Natália Correia prestou à
liberdade.
O projecto de reunir
textos “dos cancioneiros medievais à actualidade” considerados malditos pelas
regulamentações legais e sociais vigentes foi, segundo a investigadora
Isabel Cadete Novais, o aprofundamento de uma empreitada iniciada por Manuel
Cardoso Marta, amigo de Natália, a quem a escritora comprara uma generosa
biblioteca. Terá sido o jornalista que a iniciara sob o título “O purgatório dos
poetas” e após a sua morte o projecto fora recuperado, completado e publicado
com outra designação, no ano de 1966, pelas edições Afrodite, de Ribeiro de
Mello.
De entre os escritores contemporâneos que estudaram a vida e a obra de
Florbela, a malograda poetisa, dramaturga e deputada Natália Correia tece uma
das mais violentas críticas em relação à poetisa alentejana. Conhecida pela sua
actividade reivindicativa em defesa dos direitos da mulher, depois do 25 de
Abril, Natália Correia critica a alienação que Florbela evidenciou em relação a
essa luta, sobretudo porque era dotada de potencialidades intelectuais e de um
talento assinalável. No dizer de Natália, Florbela demonstrava uma feminilidade
estreme, acompanhada de um coquetismo patético, chegando mesmo
a acusá-la de diletantismo intelectual. Considerando-a insensível
às rupturas engendradas pelas crises do discurso lógico masculino, Natália
conclui que se tratou de uma diva do simbolizante, dona de uma
poesia maquilhada com langores de estrela de cinema mudo. Carregada de
pó-de-arroz.
Por outro prisma, Natália Correia, analisa a importância do ambiente
nocturno na poesia de Florbela: A dualidade sedução - castidade é
demasiadamente flagrante na poesia de Florbela para que não se reforce este
enfoque da sua insaciabilidade nocturna; o regime lunar que regula a
alternância das inclinações descendentes e ascendentes do seu temperamento. A
título de exemplo, recorre ao verso de Florbela: E a noite sou eu
própria! A noite escura. (Natália Correia, prefácio do «Diário do
Último Ano»).
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