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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Figuras que jamais serão esquecidas - "Monstro Sagrado" Natália Correia


Nuno Costa Santos 
Em 1966 foi publicada a "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica", um conjunto de textos então considerados "imorais". Nuno Costa Santos lembra a obra e o alvoroço que gerou.
Passam 50 anos da edição da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, escândalo literário apreendido e matéria de julgamento em Tribunal Plenário, acusada de ofender o “pudor geral”, a “decência”, a “moralidade pública” e os “bons costumes”. Passa meio século desse serviço que Natália Correia prestou à liberdade.

O projecto de reunir textos “dos cancioneiros medievais à actualidade” considerados malditos pelas regulamentações legais e sociais vigentes foi, segundo a investigadora Isabel Cadete Novais, o aprofundamento de uma empreitada iniciada por Manuel Cardoso Marta, amigo de Natália, a quem a escritora comprara uma generosa biblioteca. Terá sido o jornalista que a iniciara sob o título “O purgatório dos poetas” e após a sua morte o projecto fora recuperado, completado e publicado com outra designação, no ano de 1966, pelas edições Afrodite, de Ribeiro de Mello.

De entre os escritores contemporâneos que estudaram a vida e a obra de Florbela, a malograda poetisa, dramaturga e deputada Natália Correia tece uma das mais violentas críticas em relação à poetisa alentejana. Conhecida pela sua actividade reivindicativa em defesa dos direitos da mulher, depois do 25 de Abril, Natália Correia critica a alienação que Florbela evidenciou em relação a essa luta, sobretudo porque era dotada de potencialidades intelectuais e de um talento assinalável. No dizer de Natália, Florbela demonstrava uma feminilidade estreme, acompanhada de um coquetismo patético, chegando mesmo a acusá-la de diletantismo intelectual. Considerando-a insensível às rupturas engendradas pelas crises do discurso lógico masculino, Natália conclui que se tratou de uma diva do simbolizante, dona de uma poesia maquilhada com langores de estrela de cinema mudo. Carregada de pó-de-arroz.

Por outro prisma, Natália Correia, analisa a importância do ambiente nocturno na poesia de Florbela: A dualidade sedução - castidade é demasiadamente flagrante na poesia de Florbela para que não se reforce este enfoque da sua insaciabilidade nocturna; o regime lunar que regula a alternância das inclinações descendentes e ascendentes do seu temperamento. A título de exemplo, recorre ao verso de Florbela: E a noite sou eu própria! A noite escura. (Natália Correia, prefácio do «Diário do Último Ano»).
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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