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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Figuras que jamais serão esquecidas - "Monstro Sagrado" Fernando Pessoa


CARTAS PERDIDAS



A esperança de haver materiais que nunca seriam conhecidos tem um motivo: foi encontrada a transcrição uma carta de Pessoa a seu meio-irmão John, de 28 de fevereiro de 1934. O documento não está na BNP e, até onde se sabe, tampouco entre os papéis que a família do poeta ainda tem consigo em Portugal.
Também foi achado na caixa o livro inédito "The Poet of Many Faces", uma compilação, reunida por Jennings, de poemas em inglês escritos por Pessoa. Tivesse saído, o pesquisador teria sido um dos primeiros a publicar a poesia inglesa de Pessoa.

Como homenagem ao trabalho de Jennings, o pesquisador argentino Patrício Ferrari, especialista na obra inglesa e francesa do português, publica na "Pessoa Plural" 25 poemas inéditos do autor –dois dos quais já haviam sido transcritos por Jennings. O material já está disponível na versão on-line do periódico.
"A vida e a obra d Pessoa são um quebra-cabeça. Sabemos que há milhares de documentos que não foram publicados. O acervo do Jennings ajuda a montar esse quebra-cabeça", diz o brasileiro Carlos Pittella-Leite, pesquisador bolsista da Universidade de Lisboa que foi o primeiro, junto a Patrício Ferrari, a consultar a papelada.
Pittella-Leite, editor convidado da "Pessoa Plural", que ajudou na transferência do acervo para Brown, calcula que ainda deve demorar um ano para a instituição fazer todo o inventário dos papéis. Só então se terá uma ideia mais exata de tudo de inédito que há no espólio de Jennings.
Mesmo que a caixa não tivesse documentos desconhecidos de Fernando Pessoa, a descoberta ainda assim seria valiosa, por trazer as pesquisas de Jennings sobre o autor português e as impressões do britânico sobre Portugal.
Um diário do intelectual, por exemplo, conta o dia a dia em Portugal em 1968 -ano em que o ditador António Salazar caiu. O documento ajuda a reconstruir a rotina portuguesa nos meses que antecederam a derrocada do ditador.
A descoberta dos documentos também permitiu determinar a autoria de um ensaio sobre os heterônimos pessoanos em poder Manuela Nogueira, sobrinha do poeta lusitano. Uma carta de Michael, outro meio-irmão de Pessoa, no qual ele dá dicas a Jennings sobre um livro, sugere que o próprio pesquisador seja o autor do ensaio.
O britânico é mais um caso notório de estrangeiro que se desenvolveu uma relação profunda com a obra de Fernando Pessoa, ao lado do mexicano Octavio Paz e do italiano Antonio Tabucchi.
Jennings -que, como Camões, perdeu um olho em batalha, ao lutar na Primeira Guerra Mundial- descobriu o poeta, aos 70 anos, ao escrever a história da Durban High School, escola na África do Sul onde Pessoa estudou na infância, entre 1899 e 1904. Mudou-se para Portugal a fim de estudar a obra do autor.

ÁFRICA DO SUL

A caixa com seus documentos estava na garagem de sua sobrinha, na África do Sul. Os papéis foram encontrados quando ela se mudou de Joanesburgo para a Cidade do Cabo. Como os filhos de Jennings queriam escrever a história da família, eles os enviaram ao escritor americano Matthew Hart em Nova York.

Hart procurou a Universidade de Brown para entender a importância dos documentos. A instituição, por sua vez, foi atrás do colombiano Jerónimo Pizarro, hoje uma das principais autoridades na obra pessoana. Pizarro pediu para Carlos Pittella-Leite e Patrício Ferrari viajarem a Nova York para avaliar os documentos.

"Esses papéis ficaram fora de circulação por 23 anos. Fiquei surpreso ao ver como era volumosa a quantidade de escritos sobre Pessoa, traduções, contos e as memórias do meu pai", afirma o geólogo Christopher Jennings, filho do intelectual.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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